sábado, 12 de setembro de 2015

ANTÍOCO III, O GRANDE (223 – 187 a.C.) - PARTE II

O Sucesso de Molon e Alexandre
Usando da esperança de espólios e do medo das consequências da derrota, Molon preparou seus homens para enfrentar a investida de Antíoco III. Garantindo por meio de subornos o apoio dos governadores das satrápias vizinhas, Molon e Alexandre marcharam com um grande exército para enfrentar os generais do Rei. Xenon e Teodoto, vendo a grande força bélica dos rebeldes, se refugiaram nas cidades. Molon se apoderou da região de Apolônia e praticamente se tornou senhor de toda a Média e de seus abundantes recursos. Com os generais do Rei acuados e com um exército grande e entusiasmado, Molon passou a ser mais temido aos olhos dos habitantes da Ásia (Oriente Médio). ContanDo com essa aura de sucesso, Molon se preparou para a travessar o rio Tigre e tomar a cidade de Selêucia, mas sua travessia foi impedida por um estratagema de Zêuxis, general selêucida local, que se apoderou de todos os barcos para a travessia. Molon, então, fez acampamento em Ctesifonte onde preparou seu exército para ali permanecer durante o inverno. Ao ouvir do sucesso de Molon e que seus próprios generais se retiraram, Antíoco III se prontificou a abandonar a campanha contra Ptolomeu IV e entrar em campo contra Molon o mais rápido possível. Entretanto, Hermeias, defendendo seu projeto original, alegou que não era função dos reis se envolverem diretamente nas guerras, mas sim de seus generais; aos reis cabem o planejamento e o comando de batalhas decisivas, dissertava o ministro. O jovem rei, não resistindo a influência de Hermeias, nomeou um novo general, Xenoetas, o Aqueu, que recebeu o comando supremo do exército selêucida no Oriente e foi enviado para acabar com a rebelião de Molon. Assim o Império Selêucida se viu em duas frentes de batalha: contra o Egito e contra a rebelião de Molon.

Moeda com a efígie de Antíoco III proveniente de Ecbátana, capital da Média

A Campanha de Xenoetas (221 a.C.)
Xenoetas envaidecido de sua alta posição (apesar de não ter até aqui obtido êxito algum), começou a tratar seus amigos com desdém e se sentir muito confiante de seus planos para a campanha. Em Selêucia do Tigre, encontrou Zêuxis e a eles se juntaram Diógenes, o governador de Susiana, e Pitíades, o governador da costa do Golfo Pérsico. Xenoetas acampou em frente ao inimigo na margem oposta do Tigre. Apesar das ações de Molon para romper os laços de lealdade que os greco-macedônios tinham com Antíoco III, o prestígio dos Selêucidas ainda era forte entre os soldados. Numerosos homens desertaram de Molon, e atravessando o rio, se juntaram às forças de Xenoetas. Esses desertores informaram que o exército de Molon estaria disposto aderir à causa do rei caso Xenoetas atravessasse o rio. Empolgado Xenoetas, selecionou do seu exército os mais corajosos da infantaria e da cavalaria, deixando Zêuxis e Pitíades encarregados do acampamento. Com sua força selecionada, atravessou o rio à noite abaixo do acampamento de Molon. Aí, ainda de noite, montaram acampamento num terreno bem protegido por pântanos.
Área pantanosa do rio Tigre (Iraque)
Quando Molon ficou sabendo do que tinha acontecido, enviou sua cavalaria para destruir o acampamento e impedir a chegada de mais homens. Porém, a cavalaria ficou atolada na região pantanosa, e mesmo sem sofrer um ataque de Xenoetas, alguns homens de Molon pereceram nos pântanos perto do acampamento inimigo. Xenoetas, totalmente confiante de que as tropas de Molon o abandonariam, avançou e acampou perto do acampamento de Molon. Quer tenha sido por um estratagema militar ou por falta de confiança em seus homens, Molon marchou durante a noite apressadamente na direção da Média deixando a bagagem em seu acampamento. Xenoetas, vendo que Molon tinha fugido, ocupou o acampamento adversário e fez com que Zêuxis se juntassem a ele trazendo consigo sua bagagem e cavalaria. Xenoetas, sempre confiante, congratulou-se com seus homens e os autorizou a se divertir. Com as provisões deixadas por Molon e as trazidas por Zêuxis, os soldados se entregaram à bebedeira negligenciando a vigilância do acampamento. Molon, entretanto, não estava longe, e retornou ao acampamento de madrugada onde encontrou o exército inimigo embriagado e disperso. Em vão Xenoetas tentou despertar seus homens. Desesperado, o general se lançou loucamente contra o exército inimigo e acabou morrendo no confronto. A maioria dos soldados foram mortos dormindo em suas camas, enquanto o resto se jogou no rio e tentou atravessar para o acampamento para a margem oposta; a maior parte deles também perdeu suas vidas. Segundo o historiador clássico Políbio, os soldados selêucidas vendo o acampamento original na outra margem, no desespero de se salvarem bem como aos cavalos e seus pertences tentaram atravessar o rio sendo, todavia, arrastados pela correnteza. O rio se tornou um espetáculo assombroso onde corpos de homens e de animais e equipamentos de guerra e bagagens boiavam numa confusão terrível. Molon tomou posse do acampamento de Xenoetas e depois atravessou o rio e tomou o acampamento de Zêuxis. Esse já havia se retirado para Selêucia do Tigre. Em seguida Molon avançou contra a cidade e a conquistou. Zêuxis e Diomedon, o governador da cidade, também a abandonaram. Molon e seus homens tomaram a Babilônia e a também a Susa, com exceção da cidadela, onde o general Diógenes lhe oferecia resistência. Deixando uma tropa para continuar a conquista de Susa, Molon retornou a Selêucia do Tigre, reorganizou suas tropas e conquistou as regiões da Mesopotâmia e da Parapotâmia, incluindo a importante cidadela de Dura-Europos.
File:Dura Europos, Euphrates (6362405375).jpg
Ruínas da fortaleza de Dura-Europos às margens do rio Eufrates (Síria)

A Campanha na Cele-Síria (221 a.C.)
Enquanto esses eventos se desenrolam no Oriente, Antíoco III continuou sua campanha na Síra. O Rei havia preparado suas forças em Apamea, Síria, e partindo para a Cele-Síria, passando por Laodiceia, com todo o seu exército e atravessou o deserto, entrando no desfiladeiro de Mársias, que fica entre as cadeias do Líbano e Antilíbano. Depois de marchar através do desfiladeiro durante vários dias e conquistando as cidades na sua vizinhança, Antíoco chegou a Gerrha. Nessa região, Teodoto, o Etólio, que era o governador da Cele-Síria em nome de Ptolomeu IV, ocupava as cidades de Gerrha e Brochi. Ele fortificou a passagem e dispôs suas tropas em locais adequados para resistir ao exército selêucida. Antíoco forçou a passagem, mas perdeu mais homens que seu oponente. Teodoto, posicionado estrategicamente, permanecia irredutível. Tendo já desistido de avançar pelo desfiladeiro, chegou a Antíoco a notícia de que Xenoetas tinha sofrido uma derrota total e que Molon estava na posse de todas as províncias superiores; o rei abandou essa expedição e apressou-se a voltar para defender seus domínios no Oriente. Teodoto, que detivera bravamente o avanço selêucida, foi para a corte de Alexandria, onde em vez de ser recompensado, sofreu com intrigas palacianas.

REFERÊNCIAS
https://en.wikipedia.org/wiki/Tigris%E2%80%93Euphrates_river_system
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Polybius/5*.html#40
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-15-FIRST-YEARS-OF-ANTIOCHUS-III.html
http://www.livius.org/am-ao/antiochus/antiochus_iii.html
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/51/Dura_Europos,_Euphrates_(6362405375).jpg

sexta-feira, 23 de maio de 2014

ANTÍOCO III, O GRANDE (223 – 187 a.C.) - PARTE I

Antíoco III, o Grande (242 - 187 a.C.), também conhecido como Antíoco III Megas (palavra grega que quer dizer ‘grande’) foi o sexto rei do Império Selêucida, o qual governou entre 223 e 187 a.C. Sob seu governo, o Império Selêucida recobrou o vigor perdido após o reinado de Antíoco I Sóter (281 – 261 a.C.) quando os sucessores desse foram incapazes de manter o vasto território herdado se envolvendo em intrigas palacianas, conflitos internacionais e guerras civis. Antíoco III interviu no Oriente e tomou a Cele-Síria e a Palestina do Egito. Seu grande desafio, porém, foi a emergente e poderosa República Romana que passara a se imiscuir na política helenística na Europa, Egito e na Ásia Menor. Assumindo-se como o campeão da liberdade grega contra a dominação de Roma, Antíoco III empreendeu uma guerra contra os romanos, e embora derrotado, é considerado um dos seus mais formidáveis adversários como testemunham os historiadores romanos como Apiano e Plutarco.
Representação de Antíoco III, o Grande, no
Museu do Louvre, Paris, França

Origens
Nascido em 242, perto de Susa no Elão (atual Irã), Antíoco era o filho varão mais novo do rei Seleuco II Calínico e Laodice II. Seus irmãos eram: Alexandre, Antioquis, e um irmão e irmã de nomes não conhecidos. Quando seu pai morreu em 225, seu irmão Alexandre assumiu o trono e adotou o nome dinástico de Seleuco (III). Designou-se Sóter (‘salvador’ em grego), mas foi apelidado de Cerauno (‘relâmpago’ em grego) por causa de seu temperamento explosivo. O Império Selêucida estava deveras combalido: após o desgaste de uma guerra contra o Egito (a Terceira Guerra Síria, 246-241) e a independência das satrápias da Báctria e da Pártia seguiu-se a Guerra dos Irmãos (240 – 236) em que Seleuco II disputou o trono com seu irmão Antíoco Hieráx. Átalo I Sóter, dinasta de Pérgamo, aproveitou o conflito, proclamou-se rei e expandiu seus territórios na Ásia Menor. Seleuco III, com cerca de 18 anos, pretendia retomar os territórios perdidos. Antes, nomeou Antíoco, então com 16 anos, como governante do Oriente selêucida, e o enviou à Mesopotâmia.
Moeda com a efígie do rei Seleuco III Cerauno, irmão de Antíoco III

O Sátrapa da Babilônia
Seguindo a antiga tradição dos Aquemênidas, dinastia que governou o Império Persa antes da conquista macedônica, os reis selêucidas designavam seu príncipe-herdeiro como governante de uma importante província do Oriente (geralmente a Báctria). Como os reis selêucidas passaram a ascender ao trono muito jovens e com a independência da Báctria (c. 250 a.C.), os irmãos passaram a ser designados como cogovernantes e de satrápias mais próximas do Ocidente. Assim, aos 16 anos, Antíoco foi nomeado sátrapa da Babilônia, uma das províncias mais leais do Império. Embora Antíoco residisse em Selêucida do Tigre, a capital administrativa da Mesopotâmia, registra-se que Antíoco atuou em nome de Seleuco III como protetor e promotor dos tradicionais cultos babilônicos, havendo alguma indicação de que durante o reinado de Seleuco III os reis selêucidas passaram receber algum culto na religião babilônica. O tablete babilônico BCHP 12 conhecido como Crônica de Seleuco III relata o episódio que o shatammu (presidente do conselho do complexo religioso de Esagila) vai a Selêucia do Tigre justificar a administração dos recursos que recebera de Seleuco III para o festival do Akitu (celebração do ano-novo). O tablete indica a presença de Antíoco na Babilônia em 224/223 a.C. As interações de Seleuco III e Antíoco III com a Babilônia os coloca em sintonia com todos os seus antecessores como o protetor da religião tradicional dos babilônios e como participantes ativos na mesma. Isto sugere que a política selêucida de respeito para com as religiões tradicionais ainda estava intacta. Na referida crônica há uma referência a um irmão do rei Seleuco III presente na Babilônia cujo nome está incompleto. Alguns estudiosos interpretam o nome por Lísias, Leuco ou Laodico. Este seria o nome de Antíoco antes de sua ascensão ao trono?
O tablete BCHP 12 que contém a Crônica de Seleuco III que demonstra o patrocínio dos Selêucidas à
 religião babilônica e indica a presença e atividade de Antíoco III na Babilônia

A Ascensão de Antíoco III
Enquanto Antíoco governava a Babilônia, Seleuco III tentava recuperar do domínio de Pérgamo as terras selêucidas na Ásia. Sem sucesso, o jovem rei entregou-se cedo a um estado de decadência. Segundo Apiano, Seleuco III estava doente, pobre e incapaz de manter a obediência do exército. Uma conspiração, encabeçada por Nicanor, oficial macedônio da comitiva do rei, e Apatúrio, chefe dos mercenários gálatas, se formou. Seleuco III estava na Frígia, no verão de 223, quando foi envenenado. Reinara apenas três anos. Antíoco não pode assumir de imediato as rédeas do poder uma vez que estava na Mesopotâmia. O general Epigenes conseguiu retirar o exército da Ásia Menor com segurança através dos Montes Tauro. O primo do rei, Aqueu, popular e poderoso, mandou executar Nicanor e Apatúrio, os assassinos de Seleuco III e não tardou em se cogitar que o influente líder, também um descendente de Seleuco I Nicátor, o fundador do Império, tomasse o diadema real em detrimento do jovem príncipe Antíoco, então com 18 anos. No entanto, Aqueu aderiu à proclamação de Antíoco III como o novo rei e assumiu os negócios do Estado até a chegada de Antíoco; ele também comandou pessoalmente investidas na Ásia Menor para recuperar o domínio selêucida na região. Aqueu foi bem sucedido e Átalo I teve que recuar aos antigos territórios de Pérgamo. Com a chegada de Antíoco III à Antioquia da Síria ele nomeou Aqueu governador das terras selêucidas na Ásia Menor bem como a Molon como sátrapa da Média e seu irmão Alexandre como sátrapa de Pérsia. Hermeias, o Cário, que fora regente em Antioquia durante a campanha de Seleuco III na Ásia, foi confirmado como primeiro-ministro de Antíoco III que lhe confiara às rédeas nos assuntos de Estado.
A extensão do Império Selêucia quando Antíoco III ascendeu ao trono

A Tirania de Hermeias
Apesar de ter alcançado uma elevada posição de autoridade, Hermeias tinha ciúmes de todos os titulares de cargos de destaque na corte. Com disposição selvagem, patrulhava os demais ministros e quando os achava em algum erro, transformava qualquer deslize em crime, valendo-se de falsas acusações com crueldade contra aqueles que considerava eventuais ameaças a seu poder. O general Epigenes, homem notável em palavras e ações, e que gozava de grande popularidade entre os soldados, Hermeias desejava destruí-lo mais do que a todos. As intrigas de Hermeias começaram a desestabilizar o governo de Antíoco III que naturalmente começou a ser visto pelos sátrapas como uma marionete do invejoso ministro. Menosprezando a juventude do rei, temendo as intrigas de Hermeias e contando com o apoio de Aqueu, Molon e Alexandre se rebelam e declaram-se reis das satrápias que governam.
Região da Cária, na  Ásia Menor (atual Turquia), de onde era proveniente Hermeias, o tirânico primeiro-ministro de Seleuco III e Antíoco III. Na região havia muitas cidades leais à casa dos Selêucidas

Satrápias em Revolta
As distantes Báctria e a Pártia haviam sido bem sucedidas em separar-se dos Selêucidas, e Molon e Alexandre tentavam o mesmo êxito, mas precisavam agregar o apoio da população helênica (grega) na Média e na Pérsia para respaldar suas pretensões. E inicialmente o conseguiram. Quando o conselho foi chamado para discutir a revolta de Molon e Alexandre, Epigenes, o primeiro a falar, aconselhou o rei a não demorar em resolver essa questão e que seria de grande importância que o rei aparecesse pessoalmente com seu exército na província revoltada para inspirar no temor e reverência e assim enfraquecer qualquer apoio popular a Molon que seria forçado pelas circunstâncias a se render ou sujeitar-se a ser entregue ao rei pela própria população. Antes mesmo de Epigenes terminar seu discurso, Hermeias começou a acusar com fúria o general, chamando-o de traidor e que seu plano na realidade era colocar o rei indefeso à mercê dos rebeldes. Acusação foi vista apenas como uma explosão de inimizade e Epigenes não foi condenado, mas a intervenção de Hermeias (que além o ódio contra Epigenes tinha receio de se envolver pessoalmente numa guerra por não ter experiência militar) foi suficiente para que o conselho nomeasse dois generais, Xenon e Teodoto Hemiólio, para enfrentar as rebeliões no Oriente. 
Ptolomeu IV Filopátor: a fraqueza de caráter do rei egípcio
 foi um incentivo  para o ataque selêucida às suas terras na Síria
Enquanto isso, Hermeias começou a pressionar o rei para que se voltasse contra o Egito e tentasse tomar a Cele-Síria de Ptolomeu IV, considerado um rei fraco. Segundo Políbio, Hermeias queria manter o rei ocupado por todos os lados para aumentar seu poder e agir com maior liberdade e impunidade. Hermeias defendeu a tese de que havia uma conspiração em que o faraó Ptolomeu IV, o general Aqueu (outro desafeto de Hermeias), regente da Ásia Menor, e os revoltados no Oriente estavam unidos contra Antíoco III. Para pressionar mais o rei a atacar o Egito, Hermeias forjou uma carta de Ptolomeu IV a Aqueu em que o faraó instigava o general a se proclamar rei dos territórios que governava e oferecia-lhe navios e dinheiro. Uma vez que Aqueu, além de ser um membro da família selêucida, gozava de poder, prestígio e autoridade na Ásia, a possibilidade de proclamação de independência e participação nas revoltas do Oriente era bem plausível. A carta forjada por Hermeias instigou o rei a se voltar contra o Egito e atacar suas possessões na Cele-Síria.

Casando e Guerreando
Antes de sair para a planejada invasão à Síria egípcia, Antíoco III se casou com a filha do rei Mitrídates II do Ponto, Laodice (III) em 222 a.C.. O casamento além de reforçar laços familiares (Laodice era filha de Laodice, irmã do pai de Antíoco III, Seleuco II, e portanto sua prima) e seus laços políticos com os potentados da Ásia Menor, de modo a deter a crescente influência de Aqueu. A noiva foi escoltada desde a Capadócia Pôntica (antigo nome do reino do Ponto) pelo almirante Diogneto, e as núpcias foram celebradas em Selêucia Zeugmata, às margens do rio Eufrates, onde a corte estava no residindo momento. O casamento foi celebrado com toda pompa e circunstâncias régias. Assim que a festividade acabou, a corte mudou-se para Antioquia, onde Laodice foi proclamada rainha do Império Selêucida, e os preparativos para um ataque ao Egito foram levados adiante.
Moeda com a efígie de Antíoco III Megas e a imagem do deus Apolo, padroeiro da casa dos Selêucidas


FONTES:
http://sitemaker.umich.edu/mladjov/files/seleucid_kings_of_syria.pdf
http://www.attalus.org/names/a/antiochus.html#3
http://en.wikipedia.org/wiki/Antiochus_III_the_Great
http://www.livius.org/am-ao/antiochus/antiochus_iii.html
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-15-FIRST-YEARS-OF-ANTIOCHUS-III.html
http://www.seleukidtraces.info/information/gb_antiochos_iii
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/antiochos_III/t.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Molon
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Polybius/5*.html#40
http://www.ancient-egypt.co.uk/boston/pages/boston_03_2006%201703.htm

terça-feira, 8 de abril de 2014

SELEUCO III CERAUNO (225 – 223 a.C.)

Seleuco III Cerauno (243 – 223 a.C.) foi o quinto rei do Império Selêucida o qual governou brevemente entre 225 e 223 a.C. Primogênito de Seleuco II Calínico e Laodice I, nasceu em 243 e recebeu o nome de Alexandre. Em dezembro de 225 seu pai morreu ao cair de um cavalo. Alexandre, então com cerca de 18 anos, assumiu o trono e adotou o nome dinástico de Seleuco e o epíteto de Sóter, 'salvador' em grego. Porém seu apelido popular era Cerauno (Keraunós, 'relâmpago' em grego), pelo qual passou a ser mais conhecido. Esse adjetivo foi dado pelo exército por causa de seu temperamento explosivo. Até onde se sabe não se casou e nem teve filhos. Seu reinado foi como seu apelido: um relâmpago (três anos).
Moeda do reinado de Seleuco III Cerauno cunhada em Antioquia do Orontes (a capital selêucida) com
a efígie diademada do rei e a tradicional representação do deus Apolo

Um Império a Deriva
O reino que Seleuco III herdara estava combalido: no Oriente, perdera a Báctria e Pártia, que se tornaram reinos independentes; no Ocidente, o Egito domina a partes da costa da Ásia Menor e a cidade de Selêucia de Piéria, na foz do rio Orontes, que era o meio de acesso de Antioquia da Síria, a capital selêucida, ao Mar Mediterrâneo. Na Ásia Menor, a guerra entre os irmãos Seleuco II e Antíoco Hierax pelo trono não só enfraqueceu o domínio e prestígio dos Selêucidas na região como deu oportunidade a Átalo I assumir o título de rei e a total independência de Pérgamo. E mais: o novo rei começou a expandir seus domínios sobre as terras que eram dos Selêucidas. No entanto, o Império Selêucida ainda era o mais extenso dos reinos helenísticos, dominando a Síria, partes da Anatólia, a Mesopotâmia e o Irã.
O Império Selêucida em 225 a.C.

Seleuco III e a Babilônia
Seleuco Cerauno firmou o objetivo de reconquistar as terras selêucidas na Ásia Menor. Antes, envia seu irmão mais novo, Antíoco (III), para o Oriente para representar a autoridade real. Assim como os reis persas, os Selêucidas enviavam para o Oriente seu príncipe-herdeiro repartindo com ele o governo do Império. Porém, essa tradição foi interrompida por Antíoco II Teos (261 – 246 a.C.) que renegara sua primeira esposa e seus filhos para casar-se com a princesa egípcia Berenice Fernoforo não tendo um filho adulto a quem delegar essa missão. O mesmo ocorreu com Seleuco II que teve que fazer de seu irmão Antíoco Hierax vice-rei, mas em Sardes, na Lídia, e não no Oriente, então parte ocupado pelo faraó Ptolomeu III Everges e parte se rebelando como a Báctria e a Pártia. Assumindo o trono muito jovens, os reis selêucidas passaram a delegar aos irmãos o compartilhamento de poder. Assim Antíoco, com cerca de 16 anos, foi nomeado sátrapa da Babilônia, província rica e leal à dinastia selêucida. 
O tablete BCHP 12 que traz a Crônica de Seleuco III atestando o patrocínio do rei a religião babilônica
Registra-se que Antíoco atuou em nome de Seleuco III como protetor e promotor dos tradicionais cultos babilônicos, havendo alguma indicação de que durante o reinado de Seleuco III os reis selêucidas passaram a ser promovidos como semi-deuses na religião babilônica. O tablete babilônico BCHP 12 conhecido como Crônica de Seleuco III relata o episódio que o shatammu (presidente do conselho do complexo religioso de Esagila) vai a Selêucia do Tigre justificar a administração dos recursos que recebera de Seleuco III para o festival do Akitu (celebração do ano-novo). O tablete indica a presença de Antíoco na Babilônia em 224/223 a.C. As interações de Seleuco III com Babilônia colocá-lo em sintonia com todos os seus antecessores como o protetor da religião do Estado tradicional e como um participante ativo na mesma. Isto sugere que a política selêucida de respeito para com as religiões tradicionais ainda estava intacta.

As Moedas de Seleuco III Cerauno
Durante seu breve reinado, Seleuco III parece ter retornado os modelos da cunhagem selêucida, em sua maior parte, ao seu estado antes do reinado de seu pai (246-225 a.C.) e manteve o foco do patrocínio religioso no deus Apolo. As moedas de seu reinado, embora tragam os motivos dinásticos tradicionais, indicam a adição de um elemento significativo: a mecha de cabelo que se parece muito com um chifre. A “mecha-chifre” parece ser uma sugestão mais sutil da divindade do que os chifres de touro que tinha ocasionalmente apareciam na cunhagem com as efígies de seus antecessores. Será que a realidade dos fatos (guerra civil, intrigas palacianas, reis assassinados, derrotas militares) estava mostrando o quão ridículas eram as pretensões selêucidas à divindade? Será que a decadência do Império não estava evidenciando o quão vazios eram os epítetos megalomaníacos (“salvador”, “deus”, “triunfante”) dos reis selêucidas? Parece que o jovem Seleuco III teve um vislumbre de sabedoria ao não se exibir tão “divino” e “poderoso” como seus antecessores. A outra característica interessante da cunhagem de Seleuco III apareceu nas moedas cunhadas nas cidades fenícias de Arado, Gabala, Carne, Marato e Simira entre 225 e 224. Estudiosos sugerem que essa cunhagem pode ter sido feita para financiar uma possível contra o Egito que teria sido abortada com a morte do rei.
Na efígie de Seleuco III, a mecha elevada sugere um chifre, símbolo de poder e divindade. 

A Guerra Contra Pérgamo
Apesar da trégua com o Egito, esse continuava a ser um inimigo às pretensões selêucidas na Ásia Menor e na Palestina. Mas, o rival mais imediato e possivelmente menos difícil de ser vencido era o rei Átalo I Sóter de Pérgamo que tomara as terras selêucidas na Ásia Menor. O rei envia o general Andrômaco para lutar contra Átalo e retomar as terras selêucidas. Andrômaco, no entanto, foi derrotado. Seleuco III resolve ir pessoalmente enfrentar o poder de Pérgamo e reúne um exército, deixa Hermeias, o Cário, como regente em Antioquia, e atravessa a cordilheira do Tauro para retomar as terras do seu reino. Segundo o historiador Porfírio, Seleuco era estimulado por esperança de vitória e vingança em nome de seu pai. Após várias batalhas, embora tenha enfraquecido o poderio de Pérgamo, o exército selêucida não conseguiu reaver as terras anatólicas.
O reino de Pérgamo e o Império Selêucida: Átalo I Sóter expandiu
seu domínio às custas da decadência dos Selêucidas

Foi-se como um Relâmpago
Em 223, Mnesiptolemo, o historiador oficial de Antíoco III, já estava em atuação na corte de Seleuco III, pois o poeta cômico ateniense Epínico alude ao historiador recitando suas histórias para o rei enquanto ele bebe. Parece que o jovem rei entregou-se cedo a um estado de decadência. Segundo o historiador romano Apiano, Seleuco Cerauno estava doente, pobre e incapaz de comandar a obediência do exército. Sem sucesso, jovem e temperamental, não tardou que o rei fosse visto como descartável. Uma conspiração, encabeçada por Nicanor, oficial macedônio da comitiva do rei, e Apatúrio, chefe dos mercenários gálatas, se formou. Seleuco III estava na Frígia, no verão de 223, quando foi envenenado. Reinara apenas três anos. Seu irmão Antíoco foi convocado da Babilônia para sucedê-lo e quem sabe reerguer o império combalido.


FONTES:
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%ADoco_III_Magno#cite_note-olmstead.cuneiform-2
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-10-SELEUCUS-II_AND_SELEUCUS-III.html
http://www.attalus.org/translate/daniel.html
http://www.livius.org/ap-ark/appian/appian_syriaca_14.html#%5B%A766%5D
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-dynastic/dynastic_02.html
http://www.tertullian.org/fathers/jerome_daniel_02_text.htm
https://ore.exeter.ac.uk/repository/bitstream/handle/10036/95348/EricksonKG_fm.pdf?sequence=1
http://en.wikipedia.org/wiki/Seleucus_III_Ceraunus
http://www.attalus.org/names/m/mnesiptolemus.html#1
http://en.wikipedia.org/wiki/File:225fkr.jpg
http://www.livius.org/a/1/mesopotamia/BCHP_seleucus_iii_obv.jpg
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/seleukos_III/SC_939@2.jpg
http://osatalidas.blogspot.com.br/2009/02/atalo-i-soter-241-197-ac.html

sexta-feira, 4 de abril de 2014

SELEUCO II CALÍNICO (246 – 225 a.C.) - PARTE III

A Guerra contra os Parnos
Em 245, o sátrapa da Pártia, Andrágoras, seguindo o exemplo de Diodoto (I) da Báctria, se tornou independente do governo selêucida chegando, inclusive a cunhar moedas com sua efígie portando o diadema real. Mas, o reino de Andrágoras não durou muito. Diante da derrota de Seleuco II para os gálatas em Ancira, os parnos, uma tribo cita nômade de salteadores, se sentiram confiantes para investir contra Andrágoras e tomaram a parte do norte da Pártia, uma região conhecida como Astavene. Os parnos já começaram a se rebelar contra o governo selêucida nos dias de Antíoco II (261 – 246 a.C.), quando Tiridates, um líder parno, matou Perecles, o governador selêucida do distrito de Asaak, que o havia insultado. Sua crescente independência tanto de Seleuco II como do rei da Báctria, Diodoto I, que reivindicava domínio sobre eles, resultou na tomada de toda a Pártia. Andrágoras foi morto pelos parnos em 235 e Arsaces (ou Tiridates) avançou mais ao sul e apreenderam o restante da Pártia bem como a satrápia da Hircânia. 
Moeda com a efígie de Andrágoras com diadema (indicando seu status real) e a carruagem da Vitória
Seleuco II começou a se preparar para retomar suas terras no Oriente. Antes de partir, ele parece ter selado um acordo de paz (antes de 236) com seu irmão Hierax, que tem que lidar com o crescente poder de Átalo I, rei de Pérgamo, que expande seus territórios na Ásia Menor à custa dos territórios do reino de Hierax. Átalo I se arvora em campeão dos gregos, enquanto Hierax se volta mais para os “bárbaros” da Anatólia (gálatas, capadócios, pônticos). Antes do acordo de paz, a cidade fenícia de Arado se posicionou em favor de Seleuco II e fez um tratado com ele para receber refugiados políticos (237 a.C.). Com seu irmão entretido com os pergamenos, Seleuco II pode se voltar para o Oriente (230 a.C.).
Moeda do reinado de Seleuco II cunhada em Susa, Elão, atual Irã, com as representações de Héracles e Apolo
Os temores dos parnos diante das pretensões de Diodoto I da Báctria cessaram com a morte do rei e eles fizeram um acordo com seu sucessor, Diodoto II, que possivelmente temia o avanço de Seleuco II para recuperar terras no Oriente. Diante do avanço do exército selêucida, os parnos, liderados por Arsaces I, se retiram para o deserto, para a região da tribo dos apasiacas. No entanto, houve enfrentamento. Segundo algumas fontes, Seleuco II foi feito prisioneiro por vários anos por Arsaces. De acordo com outros, ele fez as pazes com o líder parno reconheceu a sua soberania. Os especialistas tendem a seguir a versão de um acordo após uma derrota conforme registra o historiador romano Justino: os parnos obtiveram uma vitória decisiva sobre Seleuco II a ponto de tornarem a essa ocasião uma celebração nacional. Com os assuntos do Ocidente (as investidas de Antíoco Hierax) demandando sua presença, Seleuco II retira-se e Arsaces e os parnos retomam a Pártia definitivamente. A partir daí eles passam a ser chamados de os partos.

A Queda de Antíoco Hierax
Enquanto Seleuco II estava lutando contra os parnos, Antíoco Hierax perdia terreno e influência para o rei Átalo I de Pérgamo. Assim, passou a investir contra as terras de seu irmão na Mesopotâmia (229 a.C.) talvez objetivando passar a Antioquia da Síria, a capital de Seleuco II. No entanto, após passar as montanhas armênias, Antíoco foi derrotado por Aqueu (sobrinho Seleuco II) e seu filho Andrômaco (cunhado de Seleuco II) e teve que se refugiar, inclusive ferido, nas montanhas. Ele espalhou a notícia de sua morte e enviou dois emissários, Filetero de Creta e Dionísio de Lisimáquia, ao acampamento de Aqueu para resgatar o “cadáver” do rei e dar-lhe o devido sepultamento sob a condição de se entregarem como prisioneiros de guerra. Como o corpo de Antíoco ainda não fora achado, Aqueu dispôs uma escolta de 4.000 homens para conduzir os emissários a seu retorno. A escolta foi atacada por Antíoco, trajando vestes reais, que fez grande estrago no destacamento. Evidentemente que essa vitória medíocre, aproveitando-se do respeito e boa-fé dos Antigos para com os mortos, não trouxe avanço à causa de Antíoco Hierax. Seleuco II está na Babilônia e Hierax tem que recuar.
Moeda do reinado de Seleuco II Calínico cunhada na Mesopotâmia com as imagens de Atena e Apolo
Antíoco se refugiou na corte do rei Ariarates III na Capadócia, onde sua tia Estratonice (III) era rainha. O rei capadócio fora inicialmente seu apoiador, mas Hierax percebeu que ele pretendia entregá-lo a Seleuco II e foge da Capadócia. Antíoco se volta novamente contra Átalo I. Átalo já o derrotara na Frígia em 229 a.C. Em 228 Hierax convoca seus mercenários da Galácia e invadiu novamente os territórios pergamenos. Átalo derrotou Hierax três vezes, primeiro no Afrodísio (santuário de Afrodite) perto Pérgamo e segundo próximo ao Lago Coloe na Lídia. Mais tarde no mesmo ano ele derrotou Hierax nas margens do rio Harpasos na Cária. Sem vitórias e amigos na Ásia e muito menos a misericórdia de seu irmão, Hierax busca asilo junto ao antigo inimigo de sua família, Ptolomeu III do Egito, que domina o Quersoneso Trácio, península na Trácia. O faraó ordena que Hierax seja mantido sob estreita vigilância. Entretanto, com a ajuda de uma cortesã que seduzira, Antíoco consegue escapar, mas foi morto por um bando de salteadores gálatas (226 a.C.).


O Fim do Reinado de Seleuco II Calínico
Aproveitando a confusão na Ásia Menor, o rei da Macedônia, Antígono III Doson conquista a Cária, antiga possessão selêucida, em c. 229-228. A Cária estava nas mãos de Ptolomeu III que apoiava a luta dos Estados gregos contra a dominação macedônica. Mas Seleuco II não se volta para a Ásia Menor para reivindicar a terra onde fora inicialmente coroado rei. Ele procura fortalecer seus domínios incontestes. Em 226 funda uma fortaleza perto de Antioquia. Demonstrando seus vínculos com o mundo helênico, ofereceu ajuda aos rodianos quando um terremoto afetou Rodes e derrubou inúmeros prédios, inclusive seu célebre colosso. É registrado que mandou vir do Egito estátua da deusa egípcia Isis e a exibiu em Antioquia. Em dezembro de 225, Seleuco II Calínico morreu ao cair do cavalo. Tinha cerca de 40 anos. Foi sucedido por seu filho Alexandre que adotou o nome de Seleuco (III). O historiador Justino relata que isso foi uma recompensa por seus crimes. Apesar de epíteto de Calínico, o triunfante, Seleuco II foi muito derrotado. Mas, legou a seu filho um reino combalido e diminuído, ainda vasto e rico o suficiente para inspirar seus sucessores a lutarem por ele.

FONTES:
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quinta-feira, 27 de março de 2014

SELEUCO II CALÍNICO (246 – 225 a.C.) - PARTE II

O Contra-Ataque de Seleuco II
Vendo se desmantelar o império que seus antecessores arduamente lhe legaram, Seleuco II começa a reagir ofensivamente para reaver e defender seus territórios na Síria e adjacências. No verão de 245 ele atravessa o Tauro. A cidade de Esmirna, que permanecera fiel a Seleuco II ressitindo aos ataques egípcios, foi recompensada com o status de cidade santa e inviolável por ter o templo de Afrodite Estratonice. Seleuco II escreveu a vários Estados e Ligas do mundo helênico, incluindo o oráculo de Delfos, para garantir essa posição para a cidade. A cidade de Magnésia do Síplio, onde uma guarnição se rebelara contra Seleuco II, foi posteriormente colocada sob o domínio de Esmirna. O ataque selêucida e a derrota da frota egípcia em Andros para Antígono II, obrigam Ptolomeu III a voltar-se para o Ocidente. O faraó deixa Xantipo governando sua possessões na Babilônia e um certo Antíoco governando suas possessões ao longo da costa do Mar Egeu e volta para Egito onde problemas internos requerem seu retorno com urgência. Embora a Báctria e a Pártia continuem independentes, Seleuco II consegue reaver a Babilônia. As vitórias de Seleuco II sobre Ptolomeu III fazem com que ele seja chamado pelo epíteto grego de kallinicos, isto é, o de bela vitória, grande vitorioso, triunfante. Porém, a tradicional cidade selêucida de Selêucia em Piéria permaneceu nas mãos dos egípcios.
Moeda do reinado de Seleuco II cunhada em Nisibis, norte da Mesopotâmia, com a efígie dos deuses gêmeos Castor e Polux, possível alusão aos irmãos régios Seleuco II e Antíoco Hierax, e um elefante de guerra, símbolo de poder militar
No entanto, os acontecimentos seguintes não confirmariam a grandeza de sua vitória: Em 244 a.C. Seleuco II enviou uma frota para punir as cidades da costa da Síria que tinham aderido a causa de Ptolomeu III. Porém, uma tempestade destruiu a frota e o rei e poucos náufragos sobreviveram. Entretanto, diante da tragédia do rei, as cidades rebeldes resolveram mudar de atitude e voltaram a se unir aos Selêucidas. No ano seguinte nasce seu primogênito Alexandre (futuro Seleuco III). Em 242 Seleuco consegue livrar as cidades sírias de Damasco e Ortósia do cerco das forças ptolomaicas. Entre 242 e 241, Seleuco ataca as terras ptolomaicas na Palestina:, mas suas forças são derrotadas e retiram-se para Antioquia. Seleuco II faz de Antioquia da Síria sua capital e ainda controla parte da Ásia Menor, o norte da Síria, a Mesopotâmia e o Irã. A Báctria segue independente com Diodoto I e a Pártia com Andrágoras. A Média Atropatene também goza de relativa independência. Não obstante, Seleuco II funda a cidade de Calínico na Mesopotâmia. Mas Ptolomeu III é ainda uma ameaça e Seleuco II não pode enfrentá-lo sozinho; além do apoio de Antígono II da Macedônia, que contesta a influência egípcia no Mar Egeu e na Grécia, ele precisa do apoio de seu irmão: Antíoco Hierax, o vice-rei selêucida em Sardes.

O Fim da Terceira Guerra Síria
Seleuco II enviou uma carta a seu irmão, em Sardes para que ele reunisse um exército, cruzasse o Tauro e viesse em seu auxílio contra Ptolomeu III. Em recompensa, Seleuco II cederia as terras selêucidas além do Tauro na Ásia Menor como um reino independente. Fontes documentais indicam que Antíoco, embora com quatorze anos, já era tratado pelo título de rei, embora subordinado a Seleuco II, antes dessa ocasião. Quem de fato tem as rédeas em Sardes é Laodice e seus asseclas, mas o jovem Antíoco é ambicioso demais para perder essa oportunidade. Foi apelidado de hierax, palavra grega que significa falcão, devido a voracidade de sua ambição. A corte em Sardes se mobiliza para enviar auxílio a Seleuco II. Temendo enfrentar dois rivais de uma única vez e ainda envolvido com ações na Grécia, Ptolomeu III resolve fazer uma trégua de 10 anos com Seleuco II pondo fim assim a Terceira Guerra Síria (241 a.C.). No ano seguinte, uma embaixada de Roma vai a corte de Ptolomeu III oferecer ajuda contra Seleuco II. O faraó agradece, mas recusa o auxílio já que o conflito estava encerrado. Ao que parece,  havendo paz com o Egito, a realeza de Antíoco Hierax não foi confirmada por Seleuco II que procura manter boas relações com as cidades da Ásia Menor, onde governa seu irmão: ele escreve a Mileto, que administra o santuário de Apolo em Dídima (onde Seleuco I Nicátor teria recebido a revelação de que ele seria rei da Ásia) e recebe a resposta favorável do oráculo de Delfos em relação a status sagrado de Esmirna. Apesar da troca de lealdades entre  Selêucidas e a Ásia Menor, Ptolomeu III controla parte da costa da Anatólia (Cilícia e Panfília) e detém a ilha de Samos e a cidade de Éfeso.
Moeda com a efígie de Seleuco II e um cavalo de batalha 


A Guerra dos Irmãos
Estabelecida a trégua com o Egito, o Império Selêucida tem que lidar com uma guerra civil onde os irmãos Seleuco II e Antíoco Hierax disputam o trono selêucida. Antíoco, instigado por sua mãe Laodice e pelo irmão desta, Alexandre, governador de Sardes, se rebela contra seu irmão e afirma sua realeza independente sobre as terras selêucidas da Ásia Menor, embora sua ambição pretenda governar todo Império Selêucida. A posição de Hierax estava bem fortalecida na Ásia Menor. Assim no ano de 240 a.C. estoura a chamada Guerra dos Irmãos ou Guerra Fraternal. Antíoco contrata os temidos mercenários gálatas. Seleuco II reúne um exército atravessa o Tauro de derrota seu irmão duas vezes na Lídia, mas não consegue tomar Sardes. Nesse período (239 a.C.) é registrada uma carta de Seleuco a certo Olímpico, estratego da Cária, sobre o santuário de Zeus em Labraunda. Apesar da vitória inicial, o apoio dos reinos da Ásia era mais favorável à causa de Antíoco Hierax. Mitrídates II, rei do Ponto e casado com Laodice, tia de ambos os reis, se junta a Hierax com um exército de gálatas.
O Mundo Helenísitco em 240 a.C.
Uma grande batalha se deu em 239 nos campos de Ancira onde Seleuco II e seu exército foram terrivelmente derrotados pelas forças gálatas. Fontes indicam cerca de 20.000 mortos. Entre os tombados, não acharam o corpo de Seleuco II. Antíoco, não obstante estar diante da possibilidade de ser o único rei selêucida, foi tomado de grande tristeza e colocou traje de luto e lamentou a morte de seu irmão. Mas logo, veio a notícia de que Seleuco ainda estava vivo. Ele havia se disfarçado como o escudeiro de Hamaction, que comandou o esquadrão real, e conseguiu escapar levando a coroa nas mãos. A jornada de Seleuco e seus companheiros através da cordilheira do Tauro não foi fácil. Começaram a se desesperar por causa da falta de comida e dos perigos da região. Encontrando uma fazenda na região, Seleuco II pediu alimento sem se dar a conhecer. O proprietário alimentou-os e deu-lhes uma festiva acolhida reconhecendo no hóspede o rei selêucida sem, entretanto, anunciar sua descoberta. Ao partirem, o proprietário acompanhou-os até a estrada e querendo mostrar que sabia quem era seu hóspede para que não fosse esquecida sua prestação de serviços, o proprietário disse: "Vá bem, rei Seleuco". Seleuco II se aproximou dele como se fosse beijá-lo e fez um sinal para um de seus companheiros para matar o homem que teve na hora sua cabeça cortada. Plutarco, que narra esse episódio, diz que se o homem tivesse ficado calado teria tido a sua recompensa quando da restauração do poder de Seleuco II. 
Os montes Tauros (na Turquia), por onde Seleuco II e poucos homens passaram após a derrota em Ancira.
Seleuco II estava agora além dos Montes Tauro, na Cilícia, refazendo suas forças. Mysta, concubina de Seleuco II que estava presente na batalha, se desfizera de seus trajes nobres, vestiu-se como uma serviçal e foi vendida como escrava para a ilha de Rodes. Identificando-se como concubina de Seleuco II, os magistrados da cidade a compraram do mercador e a reenviaram para Seleuco II com toda dignidade. Os rodianos e Seleuco II tinham laços de amizade. O vitorioso Antíoco Hierax, entretanto, se viu ameaçado pelos mercenários gálatas (que derrubando mais um rei poderiam ser mais livres na Ásia) e com uma série de pilhagens sacia-lhes a sede de riquezas. Submeteu a Frígia e enviou homens para combater seu irmão com a ajuda de Ptolomeu III. Nesse tempo Antíoco Hierax casa-se com a filha de Ziaelas, rei da Bitínia e exercendo plenamente sua realeza passa a cunhar moedas com sua efígie. 
Moeda com a efígie de Antíoco Hierax e a representação do deus Apolo
No entanto, o sucesso de Hierax é refreado pelo poder crescente de Pérgamo, cidade independente governada pelos Atálidas, mas nominalmente sujeita aos Selêucidas. Seu jovem governante, Átalo I, vence uma incursão de gálatas e assume definitivamente o título de rei. Seleuco II, embora não reconheça nem a realeza de seu irmão nem a de Átalo, tem que dedicar sua atenção nos territórios aonde efetivamente governa. Após a batalha de Ancira, com o rei selêucida mais velho recuando através do Tauro, e o mais jovem se portando como um capitão de saqueadores, a autoridade selêucida deixou a desejar na Ásia Menor. Nas partes da região que outrora obedeciam os mandatos de Sardes ou de Antioquia, agora os exércitos de Átalo é que marcharam ao longo das estradas, e seus oficiais que começam a angariar os tributos das populações da região. o reino de Pérgamo se projeta como o novo guardião do helenismo na Ásia Menor
Átalo I Sóter, rei de Pérgamo que desafiou a
soberania selêucida na Ásia Menor

A Sedição de Estratonice e a Morte de Laodice
Estratonice (II), irmã de Seleuco II, era casada com o Demétrio II Etólico, rei da Macedônia, que a repudiou para se casar com Ftia, princesa do Épiro (238 a.C.). Estratonice deixou a corte macedônica e foi para a corte de seu irmão em Antioquia onde propôs a Seleuco II que se casasse com ela e a fizesse rainha como sucedia na corte ptolomaica no Egito, onde os monarcas se casavam com suas irmãs. Laodice II, esposa de Seleuco, provavelmente já morrera e o rei vivia amasiado com sua amante Mysta. Seleuco II recusou a proposta de Estratonice. Enquanto o rei estava na Babilônia recrutando um exército e sufocando algumas rebeliões, Estratonice começou a fomentar uma rebelião em Antioquia. Quando Seleuco II retornou e retomou Antioquia, Estratonice fugiu para Selêucia em Piéria (que pertencia ao Egito) de onde pretendia fugir pelo mar, mas foi capturada e morta. Sua mãe, Laodice (I), a rainha temível que lançara o Império Selêucida no caos com suas intrigas e assassinatos parece ter morrido por volta de 237. As circunstâncias de sua morte são desconhecidas, mas o historiador romano Apiano, no seu relato sobre as guerras sírias, informar brevemente que Laodice foi morta por Ptolomeu III. O relato de Apiano induz a pensar que isso aconteceu quando Ptolomeu III tomou Antioquia (245 a.C.). O fato é que Laodice, além de estar em Éfeso na época, continuou muito ativa após esse período. Apiano pode ter simplesmente encurtado a narrativa para mencionar que a morte de Laodice teve alguma participação de Ptolomeu III  que dominava a cidade de Éfeso não longe de Sardes onde vivia Laodice. Mas não se sabe ao certo da data e o modo como morreu Laodice I.
Moeda com as imagens de Antioco Hierax e Apolo cunhada em Sardes, a capital selêucida do reino
do norte onde vivia Laodice que fez de seus dois filhos reis e depois jogou um contra o outro

FONTES:
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segunda-feira, 24 de março de 2014

SELEUCO II CALÍNICO (246 – 225 a.C.) - PARTE I

Seleuco II Calínico (265 – 225 a.C.) foi o quarto rei do Império Selêucida, o qual governou entre 246 e 225. Nascido em c. 265 a.C, era o primogênito dos rei de Antíoco II Teos e Laodice I. Seus irmãos eram Antíoco Hierax, Apame, Estratonice e Laodice. Tinha o apelido de Pogon, palavra grega que significa ‘barbudo’, mas passou a ser conhecido pelo epíteto de Calínico (do grego kallinikós, ‘o que tem grande vitória’, ‘triunfante’). Em 252, por causa de um tratado de paz com o rei egípcio Ptolomeu II Filadelfo, Antíoco Teos se casa com Berenice, filha de Ptolomeu II, e os filhos dessa união devem herdar o trono selêucida. Antíoco II se divorcia de Laodice e retira Seleuco e seus irmãos da linha de sucessão. Eles passam a viver em Éfeso com regalias e donos de grandes propriedades na Ásia. Não deixam de participar da vida do reino havendo o registro de que Seleuco e seus irmãos participaram de uma cerimônia religiosa na Babilônia em 246. Ptolomeu II morreu no início de 246 e Antíoco II, se sentindo livre do acordo que fizera com seu sogro, deixa Berenice e seu filho em Antioquia e parte para Éfeso onde se reconcilia com Laodice e restaura o status real dela e de seus filhos. Antíoco II encontra-se em franca decadência: vivia embriagado e a administração do reino passou às mãos de dois cipriotas, Aristeu e Temison.
Moeda com a efígie de Seleuco II Calínico retratando o rei com barba (ele era apelidado de
Pogon, "barbado') e a representação do deus Apolo, padroeiro da dinastia selêucida

A Ascensão de Seleuco II Calínico
Temendo que o rei decadente mudasse de ideia e ela e seus filhos perdessem a dignidade real, Laodice envenenou o marido por meio de seus servos. Assim, em julho de 246, aos 40 anos, o rei Antíoco II Teos morreu e deixou uma disputa sucessória: quem seria o herdeiro do trono? Seleuco de Laodice ou Antíoco de Berenice? Para fortalecer a posição de seu filho, Laodice, antes que a morte do rei fosse conhecida, fez que certo Artemon, que se parecia muito com Antíoco II, se passasse pelo rei “moribundo” e na presença dos nobres selêucidas em Éfeso proclamasse Seleuco seu sucessor. Quando o rei foi oficialmente declarado morto, Laodice proclamou seu filho Seleuco II, de 19 anos, como o soberano do Império Selêucida. Parece que Seleuco II estava na cidade mesopotâmica de Sitacene onde foi aclamado rei. A pedido de sua mãe (que é quem de fato tem as rédeas do governo nas mãos) faz seu irmão, Antíoco Hierax, corregente em Sardes, capital da Ásia Menor, enquanto ele vive em Éfeso. A prática tradicional dos Selêucidas era nomear seu primogênito como cogovernante da porção oriental do império, mas isso não era praticável nessa ocasião já que Seleuco II não tinha filhos. Diante de uma guerra pelo trono e sem herdeiros, Seleuco II teve que concordar com sua mãe e nomear seu adolescente irmão vice-rei em Sardes. Seleuco II casa-se com Laodice, irmã (ou filha) de certo Andrômaco, provavelmente membro da família selêucida. Da união nasceram Antióquide (que se casou com o rei Xerxes da Armênia Sofene), Alexandre (futuro Seleuco III), Antíoco (III) e uma filha e um filho de nomes desconhecidos. A notícia da morte Antíoco II chegou a Babilônia em agosto de 246 e Seleuco II Calínico foi proclamado e imediatamente aceito como rei na Babilônia. Apesar da aceitação da realeza de Seleuco II na Mesopotâmia, o governador da Báctria, Diodoto, já vinha agindo de forma independente desde os dias de Antíoco II. A dominação selêucida sobre as províncias mais orientais do Império estava abalada. Mas, a maior preocupação de Seleuco II estava mesmo no Ocidente.
A Rebelião de Diodoto (I): o sátrapa da Báctria cunha moedas com nome do rei Antíoco II ,  mas exibe sua própria
efígie com o diadema real. Depois ele assumirá completamente sua realeza independente da corte de Seleuco II

A Guerra das Rainhas
Em Antioquia da Síria, a capital do Império Selêucida, a rainha oficial Berenice Ferneforo contesta a ascensão de Seleuco III e reivindica o trono para seu filho Antíoco, uma criança com cerca de 5 anos (ou ainda um bebê segundo algumas tradições). Segundo o tratado de paz feito entre Ptolomeu II e Antíoco II, o filho de Antíoco II com Berenice é quem seria o herdeiro do trono selêucida. Berenice, assumindo a regência em nome de seu filho, conquista a cidade de Soloia na Cilícia, próxima aos territórios de Seleuco III. Embora Berenice contasse com o apoio do Egito governando por seu irmão Ptolomeu III Evergetes, a posição de Laodice era mais forte no reino selêucida. Agindo rapidamente, Laodice envia emissários a Antioquia, onde conta com o apoio do magistrado Geneu, que sequestram o pequeno Antíoco no fim do verão de 246. Berenice procura furiosamente por seu filho (ela enfrenta corajosamente aqueles que querem impedi-la) na cidade que se encontra dividida entre partidários de Laodice e Berenice. Esses últimos, no entanto, ganham força a medida que a população começa a simpatizar-se com a dor da rainha que teme pela vida de seu filho desaparecido. E não sem razão. Os partidários de Laodice, temendo a revolta popular, apresentam uma criança parecida com o Antíoco (que já fora assassinado) e a cercam de guardas e de uma pompa real. De qualquer forma o falso Antíoco permanece sob a tutela do partido de Laodice. 
Representação moderna da  ambiciosa rainha Laodice I pela Content Paradise
(www.contentparadise.com)
Berenice fica numa fortaleza no subúrbio de Dafne com uma guarda de mercenários gálatas a defendê-la. Muitas cidades na Ásia começaram a manifestar-se em favor da causa de Berenice e a disponibilizar forças para ajudá-la. Berenice já havia solicitado a ajuda de seu irmão para colocar Antíoco no trono e o faraó já está em marcha para assegurar os direitos da irmã. Bastava a Berenice continuar encastelada em Dafne e aguardar os reforços. Porém, Berenice sentindo-se segura pelo juramento de não agressão seus inimigos, deixou a proteção de sua guarda por sugestão de seu médico Aristarco, em quem confiava. Mas, desprotegida, a rainha foi secretamente assassinada. Muitas de seus companheiras tentaram protegê-la, mas foram mortas na tentativa. No entanto Panariste, Mania, e Getosine enterraram o corpo de Berenice, e colocaram outra mulher em seu lugar na cama, onde ela havia sido assassinada. Eles fingiam que ela ainda estava viva, e, provavelmente, para se recuperar do ferimento que recebera. E eles convenceram seus súditos até que o irmão de Berenice, o faraó Ptolomeu III, chegou em Antioquia e a conquistou.
Moeda com a efígie de Ptolomeu III Evergetes, rei do Egito ptolomaico

A Terceira Guerra Síria (246 – 241 a.C.)
O quarto confronto entre o Egito ptolomaico e o Império Selêucida é conhecido como Terceira Guerra Síria (o primeiro, é chamado de Guerra Cariana, 280-279 a.C.) e é também conhecido como “Guerra de Laodice”, uma vez que as ações de Laodice assassinando o rei, sua rainha e herdeiro oficiais deflagraram o conflito. Laodice fortaleceu a posição de Seleuco II na Ásia Menor onde algumas cidades já se declararam em favor de Berenice. A cidade de Mileto envia uma embaixada com um coroa de louros retirada do templo de Apolo em Didimea mostrando assim sua adesão ao jovem rei. Muitos dos outros estados gregos devem ter agido da mesma forma. Mas o ataque de Ptolomeu III deu um duro golpe na crescente adesão a Seleuco II. Em setembro, Ptolomeu III iniciara seu ataque ao Império Selêucida pela causa de sua irmã. O faraó chegou em Selêucia em Piéria, onde foi bem recebido partindo em seguida para Antioquia, onde também foi recebido com entusiasmo. Talvez os antioquenos tenham pensado em resistir, mas vendo a superioridade das forças egípcias preferiram uma rendição receptiva. Segundo o Papiro Gourob, Ptolomeu III além de ter sido bem recebido em Antioquia encontrou sua irmã viva. No entanto, o fato de sua irmã, ao deixar seu refúgio, foi imediatamente assassinada, indica que os antioquenos não eram tão favoráveis assim a causa de Berenice e o dito papiro tem sido considerado por alguns historiadores como uma propaganda de Ptolomeu III em favor da dominação egípcia. Aliás, o historiador Polieno relata que Ptolomeu III se aproveitou da farsa montada por Panariste e outros cortesãos de Antioquia, que substituíram a falecida Berenice por uma sósia, para escrever cartas em nome da irmã a várias satrápias selêucidas para facilitar sua marcha pelo Império.
A Síria Selêucida foi conquistada por Ptolomeu III

De Éfeso para Sardes
A marinha egípcia havia conquistado grande parte do território selêucida no litoral sírio e na Anatólia (atual Turquia). O governador da Cilícia, Aribazo, tenta levantar recursos para Laodice em Éfeso, mas a cidade de Soli e oficiais cilícios pedem ajuda as forças de Ptolomeu, que sob o comando de Pitágoras e Aristocles tomam Selêucia da Cicília. Aribazo é assassinado por tribos das montanhas ao tentar fugir. A costa da Cilícia bem como as possessões selêucidas na Trácia são conquistadas. As forças egípcias não ultrapassam a cadeia montanhosa do Tauro e o efetivo domínio de Seleuco II restringe-se a Anatólia onde divide o espaço com vários potentados (Pérgamo, Bitínia, Capadócia, Ponto, gálatas e cidades gregas livres). Por questão de maior segurança, a corte de Seleuco II passa de Éfeso a Sardes onde governa seu irmão Antíoco Hierax. As cidade de Mileto e Esmirna permanecem leais a casa dos Selêucidas. Laodice, quem de fato governa o reino, conspira para matar Sofron, governador de Éfeso. Porém, uma das companheiras da rainha, Danae, que havia sido mulher de Sofron, consegue avisar a Sofron que foge em segredo. A rainha furiosa lança Danae de um precipício. Antes de morrer, no entanto, Danae proferiu o seguinte discurso: “Muitas pessoas desprezam justamente a Divindade e elas podem se justificar com o meu caso, que tendo salvo o homem que era meu marido, sou recompensada assim pela Divindade. Mas, Laodice, que assassinou seu marido, é considerada digna de tamanha honra”. Sofron fugira para Éfeso, que provavelmente já está nas mãos dos egípcios, onde a ira de Laodice não pode alcançá-lo. Posteriormente um certo Sofron é mencionado como comandante de uma das frotas de Ptolomeu III.
A Ásia Menor durante a Terceira Guerra Síria em 240 a.C.

O Oriente Selêucida sob Ataque
Enquanto a marinha egípcia conquista os territórios selêucidas no Mar Egeu, Ptolomeu III dirige a campanha por terra e marcha para o Oriente onde em dezembro de 246 conquistou a Mesopotâmia, inclusive Selêucia no Tigre e a Babilônia. A inscrição de Aduli, na Abissínia, (século VI d.C.) afirma que o faraó conquistou a porção oriental do Império Selêucida até a Báctria (que já era um estado independente sob Diodoto I) e por onde passou recuperou os pertences religiosos egípcios levados pelos persas desde a conquista aquemênida (525 a.C.). Esse fato, bem como os conflitos entre Selêucidas e Ptolomeus, foi predito no livro bíblico do profeta Daniel: "... a filha [Berenice Fernoforo] do rei do Sul  [Ptolomeu II Filadelfo] casará com o rei do Norte [Antíoco II Teos], para estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos. Mas, de um renovo da linhagem dela [Ptolomeu III Evergetes], um se levantará em seu lugar, e avançará contra o exército do rei do Norte [Seleuco II Calínico], e entrará na sua fortaleza, e agirá contra eles, e prevalecerá. Também aos seus deuses com a multidão das suas imagens fundidas, com os seus objetos preciosos de prata e ouro levará como despojo para o Egito; por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte. Mas, depois, este avançará contra o reino do rei do Sul e tornará para a sua terra.", Daniel 11:6-9).
O tablete babilônico BCHP 11  que traz a crônica da invasão de Ptolomeu III a Babilônia
As fontes clássicas indicam que Ptolomeu III conquistou o Império Selêucida dos montes Tauro ao rio Indo Mas, a extensão das campanhas de Ptolomeu III tem sido muito debatida. A alegação de que ele alcançou o rio Indo é geralmente rejeitada. Na Babilônia, as fontes disponíveis indicam que o faraó foi visto como um invasor já que os babilônios reconheciam apenas Seleuco II como seu rei o que é também evidenciado pelo fato de que as tropas egípcias foram incapazes de conquistar o palácio-cidadela da Babilônia. Ainda nos dias de Antíoco II, Laodice havia feito muitas concessões de terras aos babilônios, o que poderia ser desfeito no caso de uma vitória egípcia. No Ocidente, o rei macedônio Antígono II Gônotas, aliado dos Selêucidas, ataca os domínios de Ptolomeu III no Mar Egeu e conquista as ilhas Cílclades na batalha de Andros (246 ou 245 a.C.). No entanto, o ataque egípcio desestabilizou o já decadente controle selêucida sobre as províncias mais orientais do Império. Desde de c. 255 a.C., Diodoto, o governador da Báctria, já vinha se portando de forma autônoma da corte selêucida. Nem seu casamento com uma irmã de Seleuco II (Apame?) impediu sua independência. A Diodoto se uniu, em 245, Andrágoras, governador da Pártia, que se proclamou rei do território que governava. Na Babilônia, Ptolomeu III recebe a adesão de nobres orientais. Perdendo aliados distantes, Seleuco II procura aliados mais próximos: casa sua irmã Laodice com o rei Mitrídates II do Ponto e lhe dá a Frígia como dote.

FONTES:
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http://www.attalus.org/translate/polyaenus8B.html#50.1
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-10-SELEUCUS-II_AND_SELEUCUS-III.html
http://www.forumromanum.org/literature/eutropius/trans3.html#1
http://www.livius.org/be-bm/berenice/berenice_phernephorus.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
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http://www.attalus.org/old/athenaeus13c.html#593
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-ptolemy_iii/bchp_ptolemy_iii_related_texts.html
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http://www.polyvore.com/laodice/thing?id=42001378
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http://osreisdamacedonia.blogspot.com.br/2010/11/antigono-ii-gonatas-segundo-reinado-272.html
http://www.historyandcivilization.com/Maps---Tables---Alexander-the-Great---the-Hellenistic-World.html
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http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-dynastic/dynastic_02.html#Note

terça-feira, 4 de março de 2014

ANTÍOCO II TEOS (261 – 246 a.C.)

Antíoco II Teos (286-246 a.C.) foi o terceiro rei do Império Selêucida que governou entre 261 e 246 a.C. Nascido em 286, Antíoco II era o segundo filho de Antíoco I Sóter e de Estratonice. Seus irmãos eram Seleuco, Laodice, Apame II e Estratonice III. Seguindo a tradição aquemênida e a de seu pai, Seleuco I, Antíoco I reparte o governo do Império Selêucida com seu primogênito Seleuco. Porém, em 268 Antíoco I manda matar seu príncipe-herdeiro por causa de indícios de traição e por volta de 266 eleva Antíoco II a posição de cogovernante do Império Selêucida, administrando a porção oriental. Antíoco II casou-se com Laodice (I), filha de Aqueu. Debate-se se Aqueu era o filho de Seleuco I Nicátor e, portanto ela seria prima de Antíoco II, ou se Aqueu era simplesmente um poderoso homem da Ásia Menor. Polieno e Eusébio, em suas obras clássicas, afirmam que Laodice era uma filha de Antíoco I Sóter com outra mulher  e assim ela e Antíoco II eram irmãos por parte de pai. Da união nasceram Seleuco II, Antíoco Hierax, Estratonice II, Laodice e Apame. Em 261, Antíoco I morre em combate aos gálatas e Antíoco II assume o trono com cerca de 24 anos. No entanto, o jovem rei não se volta para os gálatas ou os reinos independentes da Ásia Menor (Capadócia, Bitínia, Pérgamo, Ponto) que seu avô e seu pai tentaram submeter. Não demorou muito para que Antíoco II, respirando vingança, segundo Jonas Lendering, retomasse a guerra de seu pai com o Egito ptolomaico pelas suas terras na Ásia Menor e principalmente da Síria.
Moeda com a efígie do rei Antíoco II Teos e a imagem do deus Apolo

A Segunda Guerra Síria (260 – 253 a.C.)
Desde 301 os reis selêucidas reivindicavam a posse da Cele-Síria (região ao sul da Síria que compreendia o vale e a costa do Líbano e a Palestina) que fora tomada pelos Lágidas (dinastia dos Ptolomeus do Egito). Antíoco I e o rei egípcio Ptolomeu II se enfrentaram na Guerra Cariana (280 – 279) e na Primeira Guerra Síria (274-271), mas região disputada permaneceu de posse do Egito. Ptolomeu II interferia intensamente nos assuntos gregos financiando rebeliões contra o rei macedônio Antígono II Gônatas, cunhado de Antíoco II. Os dois reis se aliaram para enfrentar o Egito. Com o apoio da Macedônia, Antíoco II lançou um ataque contra os postos avançados de Ptolomeu II na Ásia alcançando vários sucessos na região. Porém, Eumenes I de Pérgamo se alia a Ptolomeu II e o ajuda a fazer frente as forças selêucidas. Em 259, o filho de Ptolomeu II que governa a cidade de Éfeso, conhecido como Ptolomeu, o Filho, se rebela contra seu pai e governa a cidade de modo independente. Da mesma forma, o tirano Timarco, governa a cidade de Mileto não reconhecendo a soberania nem de Selêucidas nem de Lágidas. Em 258 Antíoco II derrubou Timarco e libertou Mileto. Os habitantes o saúdam como “divino” e lhe dão o epíteto de theos (“deus” em grego) pelo qual também passa a ser conhecido.
Moeda do reinado de Antíoco Teos com a efígie de Apolo, patrono da dinastia selêucida.
Em Éfeso, os guardas trácios de Ptolomeu, o Filho, temendo a ofensiva selêucida se amotinam. O tirano e sua amante Irene se refugiam no templo de Ártemis, mas os trácios profanam o lugar sagrado e matam os dois. Éfeso passa novamente ao Império Selêucida. Possivelmente no mesmo ano Antígono II derrota a frota de Ptolomeu II comandado por Pátrocles próximo a ilha de Cós. A batalha de Cós marca o declínio do poderio egípcio sobre o Mar Egeu. Porém, as rebeliões de Corinto e da Cálcida contra o governo macedônico levam a Antígono II abandonar as hostilidade contra Ptolomeu que provavelmente financia essas revoltas. Em 254 o Egito e a Macedônia selam um tratado de paz. Nesse ínterim, Antíoco II escreve a cidade de Eritreia assegurando-lhe seu favor e autonomia e pede contribuição para um certo “fundo gálico” (pagamento de mercenários gálatas? Pagamento aos gálatas para que não ataquem os territórios selêucidas?). Com a Macedônia fora do conflito, diante do impasse em novas conquistas e problemas internos, Selêucidas e Lágidas procuram se entender.

Novo Acordo, Novo Casamento
Em 253 a.C. Antíoco II Teos e Ptolomeu II Filadelfo firmam um tratado de paz onde o Ptolomeu II reconhece os ganhos territoriais do Império Selêucida e em compensação Antíoco II deve se casar com sua filha Berenice (conhecida também como Berenice Sira). Ptoloemeu II enviou sua filha a cidade egípcia de Pelúsio de onde partiu para a corte selêucida com grande quantidade de ouro e prata o que fez com que fosse pelidada de Berenice Fernoforo (‘a que traz o dote’). Os filhos dessa nova união devem ser os herdeiros do trono selêucida. Antíoco II, portanto, se divorcia de Laodice e afasta seus filhos da linha de sucessão. Embora Damasco, a Cilícia e a Panfília tenham repassado para os domínios selêucidas, a principal causa da rivalidade, a posse da Cele-Síria, continuava nas mãos do Egito. Embora já não fosse rainha, Laodice ainda era uma figura política influente e muito poderosa. Ela era neta de Seleuco I, fundador do Império, e seu pai, Aqueu, era um homem rico e poderoso na Ásia Menor. Em seu acordo de divórcio, Antíoco II deu a Laodice várias concessões de terras em toda a Anatólia incluindo uma grande propriedade no Helesponto, outras propriedades perto de Cízico, Ílion e na Cária.
Moeda com as efígies dos reis do Egito Ptolomeu II
e Arsínoe II, sogros de Antíoco  II Teos
Em um registro real de Sardes se menciona seus títulos de terra. Antíoco II deu-lhe vários privilégios na administração de suas terras, inclusive isenção fiscal. Laodice fixou residência em Éfeso. Consta, todavia, o registro de que em 246 seus filhos, Seleuco, Antíoco e Apame participam de uma cerimônia religiosa na Babilônia onde Antíoco II também havia dado uma propriedade a Laodice. O casamento amenizou as tensões entre os dois reis. É registrado de que um médico da corte egípcia, Cleombroto de Ceos, tratou pessoalmente de Antíoco II (c. 246 a.C.) e que o faraó enviou barris com água do rio Nilo para Berenice, certamente por causa de suas supostas propriedades fertilizadoras. Da união de Antíoco com Berenice nasceu um filho, Antíoco (251 a.C.).

Renovando Alianças
Memnôn de Heracleia registra que houve um conflito entre Antíoco II e a cidade de Bizâncio, a qual contou com o apio de Heracleia Pôntica (251 a.C.). Mas, não chegou haver confrontos bélicos. Em 250 Selêucidas e Antigônidas renovam sua aliança: Antíoco II casa sua filha Estratonice II com Demétrio II Etólico, filho de Antígono II e futuro rei da Macedônia. Nessa ocasião Ariarates III foi o primeiro governante da Capadócia a proclamar-se rei oficializando assim a independência desse país. Aliás desde 257 Ariarates III era casado com uma irmã de Antíoco II, Estratonice (III). 
Rei Ariarates III da Capadócia, cunhado de Antíoco Teos

Relações Internacionais
As relações internacionais de Antíoco II não se limitaram ao Egito e à Macedônia. As fontes mostram que Antíoco II dedicou atenção a pequenas cidades da Trácia bem como com reinos poderosos no continente indiano. Antíoco II é mencionado nos Editais de Ashoka como um dos destinatários do proselitismo budista promovido pelo imperador indiano Ashoka, embora nenhum registro histórico ocidental deste evento tenha sido encontrado: "E mesmo esta conquista [pregar o budismo] foi conseguida pelo Amado dos Deuses aqui e em todas as fronteiras, tanto quanto seiscentos yojanas (entre 5.400-9.600 km) de distância, onde Antíoco, [II] rei dos Yavanas [gregos] governa, e além de Antíoco, quatro reis chamados Ptolomeu [II do Egito] , Antígono [II da Macedônia], Magas [de Cirene] e Alexandre [II do Épiro] governam.." 
A expansão do budismo nos dias de Ashoka
Ashoka também afirma que ele incentivou o desenvolvimento da medicina herbal, para homens e animais, nos territórios dos reis helenísticos: "Em todos os lugares dentro do domínio do Amado dos Deuses, do rei Piyadasi [Ashoka], e entre os povos para além das fronteiras, os Cholas , os Pandyas , os Satiyaputras, os Keralaputras, tanto quanto os Tamraparni e onde o rei grego Antíoco [II] governa, e entre os reis que são vizinhos de Antíoco, em toda parte tem o Amado dos Deuses, rei Piyadasi, prescrevia dois tipos de tratamento médico: tratamento médico para os seres humanos e tratamento médico para animais Sempre ervas medicinais...” Embora a literatura clássica mencione quase que exclusivamente a atividade de Antíoco II no Ocidente, por outras fontes sabemos que o Império Selêucida bem como outros reinos helenísticos, estiveram abertos as influências culturais vindas da Índia. Plínio em sua História Natural informa que Antíoco II incentivou a exploração do Oceano Índico.
Moeda do reinado de Antíoco Teos cunhada em Tarso, Cilícia, com as
imagens das deusas Atena e Niké (a Vitória)
No Ocidente, o rei celebrou um tratado com a cidade de Lisimáquia na Trácia, mas sitiou a cidade trácia de Cypsela com a ajuda de mercenários trácios comandados por Tris e Dromichaetes, aos quais o rei forneceu ricos ornamentos de ouro e prata. Vendo que o rei selêucida vestia assim seus homens, os habitantes de Cypsela baixarama defesa, foram até Antíoco II e selaram a paz. Os habitantes da Jônia obtiveram privilégios de cidadania conferidos por Antíoco Teos que séculos depois seriam reivindicados por judeus que viriam morar na região. O rei removeu algumas imagens de deuses de Chipre (possessão egípcia) e as transferiu para Antioquia da Síria. O rei não descuida da segurança mantendo uma manada regular de elefantes de guerra ao mesmo tempo que aprecia as artes tratando Heródoto, um recitador mímico, e Arquelau, um dançarino, com grande honra. Porém, o filósofo Licon recusou visitar sua corte.

Decadência
Não obstante, Antíoco II e seus ancestrais fossem objeto de um culto cívico-religioso como “deuses”, a “divindade” do rei selêucida não pode impedir a decadência de seu reinado. Por volta de 255 e 250, o sátrapa da Báctria, Diodoto, começou a agir de forma autônoma em relação a corte de Antioquia: ele cunha moedas com o nome de Antíoco II, mas coloca sua própria efígie nelas. E o começo da decadência do “divino” Antíoco Teos: Ele se entregou de tal maneira ao vinho que costumava ficar bêbado, e depois dormir por um longo tempo, e então, quando a noite chegava, ele acordava e voltava a beber novamente. Tal era seu estado que, muito raramente, tratava dos assuntos de seu reino estando sóbrio. Sua embriaguez era tal que os negócios reais ficaram nas mãos dos irmãos cipriotas Aristeu e Temison, que tinham grande intimidade com o rei. Diz-se que Antíoco largou o governo de tal maneira nas mãos dos cipriotas que só não passou para eles o título de rei. Tal era a decadência que Temison era chamado de “Héracles (Hércules) de Antíoco”, e o cipriota se vestia com pele de leão como o semideus grego e recebia um culto adulatório. Em janeiro de 246 morre o rei Ptolomeu II Filadelfo, sogro de Antíoco II. Se sentido livre da aliança que fizera, ele deixa Berenice e seu filho Antíoco na corte de Antioquia e parte para Éfeso para se juntar a sua primeira esposa Laodice em Éfeso. 
Moeda do reinado de Antíoco Teos com a representação de Héracles e Zeus
Antíoco II, que diza ser Berenice sua rainha e Laodice sua concubina, restaurou Laodice e seus filhos ao seu status real. Laodice, temendo que Antíoco Teos pudesse mudar de ideia de idéia novamente e voltar preferir Berenice, assassinou seu marido, persuadindo seus servos para envenená-lo. Morto o rei, seu primogênito, Seleuco II, assume o trono. Para assegurar maior estabilidade ao governo de seu filho, Laodice manda matar Berenice e Antíoco em Antioquia renovando, todavia, o conflito com o Egito cujo novo faraó quer vingar as mortes da irmã e do sobrinho. Assim morreu Antíoco II Teos com 40 anos de idade em Éfeso. Seu corpo foi sepultado no chamado Mausoléu Belevi, hoje na Turquia. O mausoléu fora construído inicalmente para o rei Lisímaco da Macedônia, mas não fora ocupado. O árduo trabalho de seu avô e seu pai para construir e manter um império plurinacional começava a se diliuir.
Mausoleu Belevi: onde foi depositado o corpo de Antíoco II Teos

FONTES:
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http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-9-ANTIOCHUS_II.html
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http://en.wikipedia.org/wiki/File:Asoka_Kaart.gif
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