segunda-feira, 24 de março de 2014

SELEUCO II CALÍNICO (246 – 225 a.C.) - PARTE I

Seleuco II Calínico (265 – 225 a.C.) foi o quarto rei do Império Selêucida, o qual governou entre 246 e 225. Nascido em c. 265 a.C, era o primogênito dos rei de Antíoco II Teos e Laodice I. Seus irmãos eram Antíoco Hierax, Apame, Estratonice e Laodice. Tinha o apelido de Pogon, palavra grega que significa ‘barbudo’, mas passou a ser conhecido pelo epíteto de Calínico (do grego kallinikós, ‘o que tem grande vitória’, ‘triunfante’). Em 252, por causa de um tratado de paz com o rei egípcio Ptolomeu II Filadelfo, Antíoco Teos se casa com Berenice, filha de Ptolomeu II, e os filhos dessa união devem herdar o trono selêucida. Antíoco II se divorcia de Laodice e retira Seleuco e seus irmãos da linha de sucessão. Eles passam a viver em Éfeso com regalias e donos de grandes propriedades na Ásia. Não deixam de participar da vida do reino havendo o registro de que Seleuco e seus irmãos participaram de uma cerimônia religiosa na Babilônia em 246. Ptolomeu II morreu no início de 246 e Antíoco II, se sentindo livre do acordo que fizera com seu sogro, deixa Berenice e seu filho em Antioquia e parte para Éfeso onde se reconcilia com Laodice e restaura o status real dela e de seus filhos. Antíoco II encontra-se em franca decadência: vivia embriagado e a administração do reino passou às mãos de dois cipriotas, Aristeu e Temison.
Moeda com a efígie de Seleuco II Calínico retratando o rei com barba (ele era apelidado de
Pogon, "barbado') e a representação do deus Apolo, padroeiro da dinastia selêucida

A Ascensão de Seleuco II Calínico
Temendo que o rei decadente mudasse de ideia e ela e seus filhos perdessem a dignidade real, Laodice envenenou o marido por meio de seus servos. Assim, em julho de 246, aos 40 anos, o rei Antíoco II Teos morreu e deixou uma disputa sucessória: quem seria o herdeiro do trono? Seleuco de Laodice ou Antíoco de Berenice? Para fortalecer a posição de seu filho, Laodice, antes que a morte do rei fosse conhecida, fez que certo Artemon, que se parecia muito com Antíoco II, se passasse pelo rei “moribundo” e na presença dos nobres selêucidas em Éfeso proclamasse Seleuco seu sucessor. Quando o rei foi oficialmente declarado morto, Laodice proclamou seu filho Seleuco II, de 19 anos, como o soberano do Império Selêucida. Parece que Seleuco II estava na cidade mesopotâmica de Sitacene onde foi aclamado rei. A pedido de sua mãe (que é quem de fato tem as rédeas do governo nas mãos) faz seu irmão, Antíoco Hierax, corregente em Sardes, capital da Ásia Menor, enquanto ele vive em Éfeso. A prática tradicional dos Selêucidas era nomear seu primogênito como cogovernante da porção oriental do império, mas isso não era praticável nessa ocasião já que Seleuco II não tinha filhos. Diante de uma guerra pelo trono e sem herdeiros, Seleuco II teve que concordar com sua mãe e nomear seu adolescente irmão vice-rei em Sardes. Seleuco II casa-se com Laodice, irmã (ou filha) de certo Andrômaco, provavelmente membro da família selêucida. Da união nasceram Antióquide (que se casou com o rei Xerxes da Armênia Sofene), Alexandre (futuro Seleuco III), Antíoco (III) e uma filha e um filho de nomes desconhecidos. A notícia da morte Antíoco II chegou a Babilônia em agosto de 246 e Seleuco II Calínico foi proclamado e imediatamente aceito como rei na Babilônia. Apesar da aceitação da realeza de Seleuco II na Mesopotâmia, o governador da Báctria, Diodoto, já vinha agindo de forma independente desde os dias de Antíoco II. A dominação selêucida sobre as províncias mais orientais do Império estava abalada. Mas, a maior preocupação de Seleuco II estava mesmo no Ocidente.
A Rebelião de Diodoto (I): o sátrapa da Báctria cunha moedas com nome do rei Antíoco II ,  mas exibe sua própria
efígie com o diadema real. Depois ele assumirá completamente sua realeza independente da corte de Seleuco II

A Guerra das Rainhas
Em Antioquia da Síria, a capital do Império Selêucida, a rainha oficial Berenice Ferneforo contesta a ascensão de Seleuco III e reivindica o trono para seu filho Antíoco, uma criança com cerca de 5 anos (ou ainda um bebê segundo algumas tradições). Segundo o tratado de paz feito entre Ptolomeu II e Antíoco II, o filho de Antíoco II com Berenice é quem seria o herdeiro do trono selêucida. Berenice, assumindo a regência em nome de seu filho, conquista a cidade de Soloia na Cilícia, próxima aos territórios de Seleuco III. Embora Berenice contasse com o apoio do Egito governando por seu irmão Ptolomeu III Evergetes, a posição de Laodice era mais forte no reino selêucida. Agindo rapidamente, Laodice envia emissários a Antioquia, onde conta com o apoio do magistrado Geneu, que sequestram o pequeno Antíoco no fim do verão de 246. Berenice procura furiosamente por seu filho (ela enfrenta corajosamente aqueles que querem impedi-la) na cidade que se encontra dividida entre partidários de Laodice e Berenice. Esses últimos, no entanto, ganham força a medida que a população começa a simpatizar-se com a dor da rainha que teme pela vida de seu filho desaparecido. E não sem razão. Os partidários de Laodice, temendo a revolta popular, apresentam uma criança parecida com o Antíoco (que já fora assassinado) e a cercam de guardas e de uma pompa real. De qualquer forma o falso Antíoco permanece sob a tutela do partido de Laodice. 
Representação moderna da  ambiciosa rainha Laodice I pela Content Paradise
(www.contentparadise.com)
Berenice fica numa fortaleza no subúrbio de Dafne com uma guarda de mercenários gálatas a defendê-la. Muitas cidades na Ásia começaram a manifestar-se em favor da causa de Berenice e a disponibilizar forças para ajudá-la. Berenice já havia solicitado a ajuda de seu irmão para colocar Antíoco no trono e o faraó já está em marcha para assegurar os direitos da irmã. Bastava a Berenice continuar encastelada em Dafne e aguardar os reforços. Porém, Berenice sentindo-se segura pelo juramento de não agressão seus inimigos, deixou a proteção de sua guarda por sugestão de seu médico Aristarco, em quem confiava. Mas, desprotegida, a rainha foi secretamente assassinada. Muitas de seus companheiras tentaram protegê-la, mas foram mortas na tentativa. No entanto Panariste, Mania, e Getosine enterraram o corpo de Berenice, e colocaram outra mulher em seu lugar na cama, onde ela havia sido assassinada. Eles fingiam que ela ainda estava viva, e, provavelmente, para se recuperar do ferimento que recebera. E eles convenceram seus súditos até que o irmão de Berenice, o faraó Ptolomeu III, chegou em Antioquia e a conquistou.
Moeda com a efígie de Ptolomeu III Evergetes, rei do Egito ptolomaico

A Terceira Guerra Síria (246 – 241 a.C.)
O quarto confronto entre o Egito ptolomaico e o Império Selêucida é conhecido como Terceira Guerra Síria (o primeiro, é chamado de Guerra Cariana, 280-279 a.C.) e é também conhecido como “Guerra de Laodice”, uma vez que as ações de Laodice assassinando o rei, sua rainha e herdeiro oficiais deflagraram o conflito. Laodice fortaleceu a posição de Seleuco II na Ásia Menor onde algumas cidades já se declararam em favor de Berenice. A cidade de Mileto envia uma embaixada com um coroa de louros retirada do templo de Apolo em Didimea mostrando assim sua adesão ao jovem rei. Muitos dos outros estados gregos devem ter agido da mesma forma. Mas o ataque de Ptolomeu III deu um duro golpe na crescente adesão a Seleuco II. Em setembro, Ptolomeu III iniciara seu ataque ao Império Selêucida pela causa de sua irmã. O faraó chegou em Selêucia em Piéria, onde foi bem recebido partindo em seguida para Antioquia, onde também foi recebido com entusiasmo. Talvez os antioquenos tenham pensado em resistir, mas vendo a superioridade das forças egípcias preferiram uma rendição receptiva. Segundo o Papiro Gourob, Ptolomeu III além de ter sido bem recebido em Antioquia encontrou sua irmã viva. No entanto, o fato de sua irmã, ao deixar seu refúgio, foi imediatamente assassinada, indica que os antioquenos não eram tão favoráveis assim a causa de Berenice e o dito papiro tem sido considerado por alguns historiadores como uma propaganda de Ptolomeu III em favor da dominação egípcia. Aliás, o historiador Polieno relata que Ptolomeu III se aproveitou da farsa montada por Panariste e outros cortesãos de Antioquia, que substituíram a falecida Berenice por uma sósia, para escrever cartas em nome da irmã a várias satrápias selêucidas para facilitar sua marcha pelo Império.
A Síria Selêucida foi conquistada por Ptolomeu III

De Éfeso para Sardes
A marinha egípcia havia conquistado grande parte do território selêucida no litoral sírio e na Anatólia (atual Turquia). O governador da Cilícia, Aribazo, tenta levantar recursos para Laodice em Éfeso, mas a cidade de Soli e oficiais cilícios pedem ajuda as forças de Ptolomeu, que sob o comando de Pitágoras e Aristocles tomam Selêucia da Cicília. Aribazo é assassinado por tribos das montanhas ao tentar fugir. A costa da Cilícia bem como as possessões selêucidas na Trácia são conquistadas. As forças egípcias não ultrapassam a cadeia montanhosa do Tauro e o efetivo domínio de Seleuco II restringe-se a Anatólia onde divide o espaço com vários potentados (Pérgamo, Bitínia, Capadócia, Ponto, gálatas e cidades gregas livres). Por questão de maior segurança, a corte de Seleuco II passa de Éfeso a Sardes onde governa seu irmão Antíoco Hierax. As cidade de Mileto e Esmirna permanecem leais a casa dos Selêucidas. Laodice, quem de fato governa o reino, conspira para matar Sofron, governador de Éfeso. Porém, uma das companheiras da rainha, Danae, que havia sido mulher de Sofron, consegue avisar a Sofron que foge em segredo. A rainha furiosa lança Danae de um precipício. Antes de morrer, no entanto, Danae proferiu o seguinte discurso: “Muitas pessoas desprezam justamente a Divindade e elas podem se justificar com o meu caso, que tendo salvo o homem que era meu marido, sou recompensada assim pela Divindade. Mas, Laodice, que assassinou seu marido, é considerada digna de tamanha honra”. Sofron fugira para Éfeso, que provavelmente já está nas mãos dos egípcios, onde a ira de Laodice não pode alcançá-lo. Posteriormente um certo Sofron é mencionado como comandante de uma das frotas de Ptolomeu III.
A Ásia Menor durante a Terceira Guerra Síria em 240 a.C.

O Oriente Selêucida sob Ataque
Enquanto a marinha egípcia conquista os territórios selêucidas no Mar Egeu, Ptolomeu III dirige a campanha por terra e marcha para o Oriente onde em dezembro de 246 conquistou a Mesopotâmia, inclusive Selêucia no Tigre e a Babilônia. A inscrição de Aduli, na Abissínia, (século VI d.C.) afirma que o faraó conquistou a porção oriental do Império Selêucida até a Báctria (que já era um estado independente sob Diodoto I) e por onde passou recuperou os pertences religiosos egípcios levados pelos persas desde a conquista aquemênida (525 a.C.). Esse fato, bem como os conflitos entre Selêucidas e Ptolomeus, foi predito no livro bíblico do profeta Daniel: "... a filha [Berenice Fernoforo] do rei do Sul  [Ptolomeu II Filadelfo] casará com o rei do Norte [Antíoco II Teos], para estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos. Mas, de um renovo da linhagem dela [Ptolomeu III Evergetes], um se levantará em seu lugar, e avançará contra o exército do rei do Norte [Seleuco II Calínico], e entrará na sua fortaleza, e agirá contra eles, e prevalecerá. Também aos seus deuses com a multidão das suas imagens fundidas, com os seus objetos preciosos de prata e ouro levará como despojo para o Egito; por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte. Mas, depois, este avançará contra o reino do rei do Sul e tornará para a sua terra.", Daniel 11:6-9).
O tablete babilônico BCHP 11  que traz a crônica da invasão de Ptolomeu III a Babilônia
As fontes clássicas indicam que Ptolomeu III conquistou o Império Selêucida dos montes Tauro ao rio Indo Mas, a extensão das campanhas de Ptolomeu III tem sido muito debatida. A alegação de que ele alcançou o rio Indo é geralmente rejeitada. Na Babilônia, as fontes disponíveis indicam que o faraó foi visto como um invasor já que os babilônios reconheciam apenas Seleuco II como seu rei o que é também evidenciado pelo fato de que as tropas egípcias foram incapazes de conquistar o palácio-cidadela da Babilônia. Ainda nos dias de Antíoco II, Laodice havia feito muitas concessões de terras aos babilônios, o que poderia ser desfeito no caso de uma vitória egípcia. No Ocidente, o rei macedônio Antígono II Gônotas, aliado dos Selêucidas, ataca os domínios de Ptolomeu III no Mar Egeu e conquista as ilhas Cílclades na batalha de Andros (246 ou 245 a.C.). No entanto, o ataque egípcio desestabilizou o já decadente controle selêucida sobre as províncias mais orientais do Império. Desde de c. 255 a.C., Diodoto, o governador da Báctria, já vinha se portando de forma autônoma da corte selêucida. Nem seu casamento com uma irmã de Seleuco II (Apame?) impediu sua independência. A Diodoto se uniu, em 245, Andrágoras, governador da Pártia, que se proclamou rei do território que governava. Na Babilônia, Ptolomeu III recebe a adesão de nobres orientais. Perdendo aliados distantes, Seleuco II procura aliados mais próximos: casa sua irmã Laodice com o rei Mitrídates II do Ponto e lhe dá a Frígia como dote.

FONTES:
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http://www.attalus.org/translate/polyaenus8B.html#50.1
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-10-SELEUCUS-II_AND_SELEUCUS-III.html
http://www.forumromanum.org/literature/eutropius/trans3.html#1
http://www.livius.org/be-bm/berenice/berenice_phernephorus.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-ptolemy_iii/bchp_ptolemy_iii_02.html#Commentary
http://www.attalus.org/old/athenaeus13c.html#593
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-ptolemy_iii/bchp_ptolemy_iii_related_texts.html
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http://lexundria.com/j_ap/1.207/wst
http://www.cais-soas.com/CAIS/History/ashkanian/arsacids_beginnings.htm
http://www.livius.org/pan-paz/parni/parni.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A1goras
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http://en.wikipedia.org/wiki/Ptolemy_III_Euergetes
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http://www.historyandcivilization.com/Maps---Tables---Alexander-the-Great---the-Hellenistic-World.html
http://www.livius.org/a/1/mesopotamia/BCHP_ptolemy_iii_BM_34428obv.jpg
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-dynastic/dynastic_02.html#Note

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