terça-feira, 8 de abril de 2014

SELEUCO III CERAUNO (225 – 223 a.C.)

Seleuco III Cerauno (243 – 223 a.C.) foi o quinto rei do Império Selêucida o qual governou brevemente entre 225 e 223 a.C. Primogênito de Seleuco II Calínico e Laodice I, nasceu em 243 e recebeu o nome de Alexandre. Em dezembro de 225 seu pai morreu ao cair de um cavalo. Alexandre, então com cerca de 18 anos, assumiu o trono e adotou o nome dinástico de Seleuco e o epíteto de Sóter, 'salvador' em grego. Porém seu apelido popular era Cerauno (Keraunós, 'relâmpago' em grego), pelo qual passou a ser mais conhecido. Esse adjetivo foi dado pelo exército por causa de seu temperamento explosivo. Até onde se sabe não se casou e nem teve filhos. Seu reinado foi como seu apelido: um relâmpago (três anos).
Moeda do reinado de Seleuco III Cerauno cunhada em Antioquia do Orontes (a capital selêucida) com
a efígie diademada do rei e a tradicional representação do deus Apolo

Um Império a Deriva
O reino que Seleuco III herdara estava combalido: no Oriente, perdera a Báctria e Pártia, que se tornaram reinos independentes; no Ocidente, o Egito domina a partes da costa da Ásia Menor e a cidade de Selêucia de Piéria, na foz do rio Orontes, que era o meio de acesso de Antioquia da Síria, a capital selêucida, ao Mar Mediterrâneo. Na Ásia Menor, a guerra entre os irmãos Seleuco II e Antíoco Hierax pelo trono não só enfraqueceu o domínio e prestígio dos Selêucidas na região como deu oportunidade a Átalo I assumir o título de rei e a total independência de Pérgamo. E mais: o novo rei começou a expandir seus domínios sobre as terras que eram dos Selêucidas. No entanto, o Império Selêucida ainda era o mais extenso dos reinos helenísticos, dominando a Síria, partes da Anatólia, a Mesopotâmia e o Irã.
O Império Selêucida em 225 a.C.

Seleuco III e a Babilônia
Seleuco Cerauno firmou o objetivo de reconquistar as terras selêucidas na Ásia Menor. Antes, envia seu irmão mais novo, Antíoco (III), para o Oriente para representar a autoridade real. Assim como os reis persas, os Selêucidas enviavam para o Oriente seu príncipe-herdeiro repartindo com ele o governo do Império. Porém, essa tradição foi interrompida por Antíoco II Teos (261 – 246 a.C.) que renegara sua primeira esposa e seus filhos para casar-se com a princesa egípcia Berenice Fernoforo não tendo um filho adulto a quem delegar essa missão. O mesmo ocorreu com Seleuco II que teve que fazer de seu irmão Antíoco Hierax vice-rei, mas em Sardes, na Lídia, e não no Oriente, então parte ocupado pelo faraó Ptolomeu III Everges e parte se rebelando como a Báctria e a Pártia. Assumindo o trono muito jovens, os reis selêucidas passaram a delegar aos irmãos o compartilhamento de poder. Assim Antíoco, com cerca de 16 anos, foi nomeado sátrapa da Babilônia, província rica e leal à dinastia selêucida. 
O tablete BCHP 12 que traz a Crônica de Seleuco III atestando o patrocínio do rei a religião babilônica
Registra-se que Antíoco atuou em nome de Seleuco III como protetor e promotor dos tradicionais cultos babilônicos, havendo alguma indicação de que durante o reinado de Seleuco III os reis selêucidas passaram a ser promovidos como semi-deuses na religião babilônica. O tablete babilônico BCHP 12 conhecido como Crônica de Seleuco III relata o episódio que o shatammu (presidente do conselho do complexo religioso de Esagila) vai a Selêucia do Tigre justificar a administração dos recursos que recebera de Seleuco III para o festival do Akitu (celebração do ano-novo). O tablete indica a presença de Antíoco na Babilônia em 224/223 a.C. As interações de Seleuco III com Babilônia colocá-lo em sintonia com todos os seus antecessores como o protetor da religião do Estado tradicional e como um participante ativo na mesma. Isto sugere que a política selêucida de respeito para com as religiões tradicionais ainda estava intacta.

As Moedas de Seleuco III Cerauno
Durante seu breve reinado, Seleuco III parece ter retornado os modelos da cunhagem selêucida, em sua maior parte, ao seu estado antes do reinado de seu pai (246-225 a.C.) e manteve o foco do patrocínio religioso no deus Apolo. As moedas de seu reinado, embora tragam os motivos dinásticos tradicionais, indicam a adição de um elemento significativo: a mecha de cabelo que se parece muito com um chifre. A “mecha-chifre” parece ser uma sugestão mais sutil da divindade do que os chifres de touro que tinha ocasionalmente apareciam na cunhagem com as efígies de seus antecessores. Será que a realidade dos fatos (guerra civil, intrigas palacianas, reis assassinados, derrotas militares) estava mostrando o quão ridículas eram as pretensões selêucidas à divindade? Será que a decadência do Império não estava evidenciando o quão vazios eram os epítetos megalomaníacos (“salvador”, “deus”, “triunfante”) dos reis selêucidas? Parece que o jovem Seleuco III teve um vislumbre de sabedoria ao não se exibir tão “divino” e “poderoso” como seus antecessores. A outra característica interessante da cunhagem de Seleuco III apareceu nas moedas cunhadas nas cidades fenícias de Arado, Gabala, Carne, Marato e Simira entre 225 e 224. Estudiosos sugerem que essa cunhagem pode ter sido feita para financiar uma possível contra o Egito que teria sido abortada com a morte do rei.
Na efígie de Seleuco III, a mecha elevada sugere um chifre, símbolo de poder e divindade. 

A Guerra Contra Pérgamo
Apesar da trégua com o Egito, esse continuava a ser um inimigo às pretensões selêucidas na Ásia Menor e na Palestina. Mas, o rival mais imediato e possivelmente menos difícil de ser vencido era o rei Átalo I Sóter de Pérgamo que tomara as terras selêucidas na Ásia Menor. O rei envia o general Andrômaco para lutar contra Átalo e retomar as terras selêucidas. Andrômaco, no entanto, foi derrotado. Seleuco III resolve ir pessoalmente enfrentar o poder de Pérgamo e reúne um exército, deixa Hermeias, o Cário, como regente em Antioquia, e atravessa a cordilheira do Tauro para retomar as terras do seu reino. Segundo o historiador Porfírio, Seleuco era estimulado por esperança de vitória e vingança em nome de seu pai. Após várias batalhas, embora tenha enfraquecido o poderio de Pérgamo, o exército selêucida não conseguiu reaver as terras anatólicas.
O reino de Pérgamo e o Império Selêucida: Átalo I Sóter expandiu
seu domínio às custas da decadência dos Selêucidas

Foi-se como um Relâmpago
Em 223, Mnesiptolemo, o historiador oficial de Antíoco III, já estava em atuação na corte de Seleuco III, pois o poeta cômico ateniense Epínico alude ao historiador recitando suas histórias para o rei enquanto ele bebe. Parece que o jovem rei entregou-se cedo a um estado de decadência. Segundo o historiador romano Apiano, Seleuco Cerauno estava doente, pobre e incapaz de comandar a obediência do exército. Sem sucesso, jovem e temperamental, não tardou que o rei fosse visto como descartável. Uma conspiração, encabeçada por Nicanor, oficial macedônio da comitiva do rei, e Apatúrio, chefe dos mercenários gálatas, se formou. Seleuco III estava na Frígia, no verão de 223, quando foi envenenado. Reinara apenas três anos. Seu irmão Antíoco foi convocado da Babilônia para sucedê-lo e quem sabe reerguer o império combalido.


FONTES:
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%ADoco_III_Magno#cite_note-olmstead.cuneiform-2
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-10-SELEUCUS-II_AND_SELEUCUS-III.html
http://www.attalus.org/translate/daniel.html
http://www.livius.org/ap-ark/appian/appian_syriaca_14.html#%5B%A766%5D
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-dynastic/dynastic_02.html
http://www.tertullian.org/fathers/jerome_daniel_02_text.htm
https://ore.exeter.ac.uk/repository/bitstream/handle/10036/95348/EricksonKG_fm.pdf?sequence=1
http://en.wikipedia.org/wiki/Seleucus_III_Ceraunus
http://www.attalus.org/names/m/mnesiptolemus.html#1
http://en.wikipedia.org/wiki/File:225fkr.jpg
http://www.livius.org/a/1/mesopotamia/BCHP_seleucus_iii_obv.jpg
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/seleukos_III/SC_939@2.jpg
http://osatalidas.blogspot.com.br/2009/02/atalo-i-soter-241-197-ac.html

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