sexta-feira, 23 de maio de 2014

ANTÍOCO III, O GRANDE (223 – 187 a.C.) - PARTE I

Antíoco III, o Grande (242 - 187 a.C.), também conhecido como Antíoco III Megas (palavra grega que quer dizer ‘grande’) foi o sexto rei do Império Selêucida, o qual governou entre 223 e 187 a.C. Sob seu governo, o Império Selêucida recobrou o vigor perdido após o reinado de Antíoco I Sóter (281 – 261 a.C.) quando os sucessores desse foram incapazes de manter o vasto território herdado se envolvendo em intrigas palacianas, conflitos internacionais e guerras civis. Antíoco III interviu no Oriente e tomou a Cele-Síria e a Palestina do Egito. Seu grande desafio, porém, foi a emergente e poderosa República Romana que passara a se imiscuir na política helenística na Europa, Egito e na Ásia Menor. Assumindo-se como o campeão da liberdade grega contra a dominação de Roma, Antíoco III empreendeu uma guerra contra os romanos, e embora derrotado, é considerado um dos seus mais formidáveis adversários como testemunham os historiadores romanos como Apiano e Plutarco.
Representação de Antíoco III, o Grande, no
Museu do Louvre, Paris, França

Origens
Nascido em 242, perto de Susa no Elão (atual Irã), Antíoco era o filho varão mais novo do rei Seleuco II Calínico e Laodice II. Seus irmãos eram: Alexandre, Antioquis, e um irmão e irmã de nomes não conhecidos. Quando seu pai morreu em 225, seu irmão Alexandre assumiu o trono e adotou o nome dinástico de Seleuco (III). Designou-se Sóter (‘salvador’ em grego), mas foi apelidado de Cerauno (‘relâmpago’ em grego) por causa de seu temperamento explosivo. O Império Selêucida estava deveras combalido: após o desgaste de uma guerra contra o Egito (a Terceira Guerra Síria, 246-241) e a independência das satrápias da Báctria e da Pártia seguiu-se a Guerra dos Irmãos (240 – 236) em que Seleuco II disputou o trono com seu irmão Antíoco Hieráx. Átalo I Sóter, dinasta de Pérgamo, aproveitou o conflito, proclamou-se rei e expandiu seus territórios na Ásia Menor. Seleuco III, com cerca de 18 anos, pretendia retomar os territórios perdidos. Antes, nomeou Antíoco, então com 16 anos, como governante do Oriente selêucida, e o enviou à Mesopotâmia.
Moeda com a efígie do rei Seleuco III Cerauno, irmão de Antíoco III

O Sátrapa da Babilônia
Seguindo a antiga tradição dos Aquemênidas, dinastia que governou o Império Persa antes da conquista macedônica, os reis selêucidas designavam seu príncipe-herdeiro como governante de uma importante província do Oriente (geralmente a Báctria). Como os reis selêucidas passaram a ascender ao trono muito jovens e com a independência da Báctria (c. 250 a.C.), os irmãos passaram a ser designados como cogovernantes e de satrápias mais próximas do Ocidente. Assim, aos 16 anos, Antíoco foi nomeado sátrapa da Babilônia, uma das províncias mais leais do Império. Embora Antíoco residisse em Selêucida do Tigre, a capital administrativa da Mesopotâmia, registra-se que Antíoco atuou em nome de Seleuco III como protetor e promotor dos tradicionais cultos babilônicos, havendo alguma indicação de que durante o reinado de Seleuco III os reis selêucidas passaram receber algum culto na religião babilônica. O tablete babilônico BCHP 12 conhecido como Crônica de Seleuco III relata o episódio que o shatammu (presidente do conselho do complexo religioso de Esagila) vai a Selêucia do Tigre justificar a administração dos recursos que recebera de Seleuco III para o festival do Akitu (celebração do ano-novo). O tablete indica a presença de Antíoco na Babilônia em 224/223 a.C. As interações de Seleuco III e Antíoco III com a Babilônia os coloca em sintonia com todos os seus antecessores como o protetor da religião tradicional dos babilônios e como participantes ativos na mesma. Isto sugere que a política selêucida de respeito para com as religiões tradicionais ainda estava intacta. Na referida crônica há uma referência a um irmão do rei Seleuco III presente na Babilônia cujo nome está incompleto. Alguns estudiosos interpretam o nome por Lísias, Leuco ou Laodico. Este seria o nome de Antíoco antes de sua ascensão ao trono?
O tablete BCHP 12 que contém a Crônica de Seleuco III que demonstra o patrocínio dos Selêucidas à
 religião babilônica e indica a presença e atividade de Antíoco III na Babilônia

A Ascensão de Antíoco III
Enquanto Antíoco governava a Babilônia, Seleuco III tentava recuperar do domínio de Pérgamo as terras selêucidas na Ásia. Sem sucesso, o jovem rei entregou-se cedo a um estado de decadência. Segundo Apiano, Seleuco III estava doente, pobre e incapaz de manter a obediência do exército. Uma conspiração, encabeçada por Nicanor, oficial macedônio da comitiva do rei, e Apatúrio, chefe dos mercenários gálatas, se formou. Seleuco III estava na Frígia, no verão de 223, quando foi envenenado. Reinara apenas três anos. Antíoco não pode assumir de imediato as rédeas do poder uma vez que estava na Mesopotâmia. O general Epigenes conseguiu retirar o exército da Ásia Menor com segurança através dos Montes Tauro. O primo do rei, Aqueu, popular e poderoso, mandou executar Nicanor e Apatúrio, os assassinos de Seleuco III e não tardou em se cogitar que o influente líder, também um descendente de Seleuco I Nicátor, o fundador do Império, tomasse o diadema real em detrimento do jovem príncipe Antíoco, então com 18 anos. No entanto, Aqueu aderiu à proclamação de Antíoco III como o novo rei e assumiu os negócios do Estado até a chegada de Antíoco; ele também comandou pessoalmente investidas na Ásia Menor para recuperar o domínio selêucida na região. Aqueu foi bem sucedido e Átalo I teve que recuar aos antigos territórios de Pérgamo. Com a chegada de Antíoco III à Antioquia da Síria ele nomeou Aqueu governador das terras selêucidas na Ásia Menor bem como a Molon como sátrapa da Média e seu irmão Alexandre como sátrapa de Pérsia. Hermeias, o Cário, que fora regente em Antioquia durante a campanha de Seleuco III na Ásia, foi confirmado como primeiro-ministro de Antíoco III que lhe confiara às rédeas nos assuntos de Estado.
A extensão do Império Selêucia quando Antíoco III ascendeu ao trono

A Tirania de Hermeias
Apesar de ter alcançado uma elevada posição de autoridade, Hermeias tinha ciúmes de todos os titulares de cargos de destaque na corte. Com disposição selvagem, patrulhava os demais ministros e quando os achava em algum erro, transformava qualquer deslize em crime, valendo-se de falsas acusações com crueldade contra aqueles que considerava eventuais ameaças a seu poder. O general Epigenes, homem notável em palavras e ações, e que gozava de grande popularidade entre os soldados, Hermeias desejava destruí-lo mais do que a todos. As intrigas de Hermeias começaram a desestabilizar o governo de Antíoco III que naturalmente começou a ser visto pelos sátrapas como uma marionete do invejoso ministro. Menosprezando a juventude do rei, temendo as intrigas de Hermeias e contando com o apoio de Aqueu, Molon e Alexandre se rebelam e declaram-se reis das satrápias que governam.
Região da Cária, na  Ásia Menor (atual Turquia), de onde era proveniente Hermeias, o tirânico primeiro-ministro de Seleuco III e Antíoco III. Na região havia muitas cidades leais à casa dos Selêucidas

Satrápias em Revolta
As distantes Báctria e a Pártia haviam sido bem sucedidas em separar-se dos Selêucidas, e Molon e Alexandre tentavam o mesmo êxito, mas precisavam agregar o apoio da população helênica (grega) na Média e na Pérsia para respaldar suas pretensões. E inicialmente o conseguiram. Quando o conselho foi chamado para discutir a revolta de Molon e Alexandre, Epigenes, o primeiro a falar, aconselhou o rei a não demorar em resolver essa questão e que seria de grande importância que o rei aparecesse pessoalmente com seu exército na província revoltada para inspirar no temor e reverência e assim enfraquecer qualquer apoio popular a Molon que seria forçado pelas circunstâncias a se render ou sujeitar-se a ser entregue ao rei pela própria população. Antes mesmo de Epigenes terminar seu discurso, Hermeias começou a acusar com fúria o general, chamando-o de traidor e que seu plano na realidade era colocar o rei indefeso à mercê dos rebeldes. Acusação foi vista apenas como uma explosão de inimizade e Epigenes não foi condenado, mas a intervenção de Hermeias (que além o ódio contra Epigenes tinha receio de se envolver pessoalmente numa guerra por não ter experiência militar) foi suficiente para que o conselho nomeasse dois generais, Xenon e Teodoto Hemiólio, para enfrentar as rebeliões no Oriente. 
Ptolomeu IV Filopátor: a fraqueza de caráter do rei egípcio
 foi um incentivo  para o ataque selêucida às suas terras na Síria
Enquanto isso, Hermeias começou a pressionar o rei para que se voltasse contra o Egito e tentasse tomar a Cele-Síria de Ptolomeu IV, considerado um rei fraco. Segundo Políbio, Hermeias queria manter o rei ocupado por todos os lados para aumentar seu poder e agir com maior liberdade e impunidade. Hermeias defendeu a tese de que havia uma conspiração em que o faraó Ptolomeu IV, o general Aqueu (outro desafeto de Hermeias), regente da Ásia Menor, e os revoltados no Oriente estavam unidos contra Antíoco III. Para pressionar mais o rei a atacar o Egito, Hermeias forjou uma carta de Ptolomeu IV a Aqueu em que o faraó instigava o general a se proclamar rei dos territórios que governava e oferecia-lhe navios e dinheiro. Uma vez que Aqueu, além de ser um membro da família selêucida, gozava de poder, prestígio e autoridade na Ásia, a possibilidade de proclamação de independência e participação nas revoltas do Oriente era bem plausível. A carta forjada por Hermeias instigou o rei a se voltar contra o Egito e atacar suas possessões na Cele-Síria.

Casando e Guerreando
Antes de sair para a planejada invasão à Síria egípcia, Antíoco III se casou com a filha do rei Mitrídates II do Ponto, Laodice (III) em 222 a.C.. O casamento além de reforçar laços familiares (Laodice era filha de Laodice, irmã do pai de Antíoco III, Seleuco II, e portanto sua prima) e seus laços políticos com os potentados da Ásia Menor, de modo a deter a crescente influência de Aqueu. A noiva foi escoltada desde a Capadócia Pôntica (antigo nome do reino do Ponto) pelo almirante Diogneto, e as núpcias foram celebradas em Selêucia Zeugmata, às margens do rio Eufrates, onde a corte estava no residindo momento. O casamento foi celebrado com toda pompa e circunstâncias régias. Assim que a festividade acabou, a corte mudou-se para Antioquia, onde Laodice foi proclamada rainha do Império Selêucida, e os preparativos para um ataque ao Egito foram levados adiante.
Moeda com a efígie de Antíoco III Megas e a imagem do deus Apolo, padroeiro da casa dos Selêucidas


FONTES:
http://sitemaker.umich.edu/mladjov/files/seleucid_kings_of_syria.pdf
http://www.attalus.org/names/a/antiochus.html#3
http://en.wikipedia.org/wiki/Antiochus_III_the_Great
http://www.livius.org/am-ao/antiochus/antiochus_iii.html
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-15-FIRST-YEARS-OF-ANTIOCHUS-III.html
http://www.seleukidtraces.info/information/gb_antiochos_iii
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/antiochos_III/t.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Molon
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Polybius/5*.html#40
http://www.ancient-egypt.co.uk/boston/pages/boston_03_2006%201703.htm

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