sábado, 18 de janeiro de 2014

SELEUCO I NICÁTOR (312 – 281 a.C.) - PARTE VII

A Quarta Guerra dos Diádocos (307 - 301 a.C.) 
Embora estivesse em campanha no Oriente, Seleuco não ignorava a guerra que se desenrolava no Ocidente entre Antígono e seu filho Demétrio contra os demais diádocos. Cada um pretendia ser apenas rei em seu território, mas Antígono parecia querer restaurar a unidade do império de Alexandre em seu favor. Sendo o mais vulnerável de todos, Cassandro buscou a paz com Antígono (302 a.C.), mas esse queria uma rendição total o que equivaleria entregar o reino da Macedônia a Antígono, o que Cassandro recusou. Ele rompeu as negociações e a guerra foi retomada. Entretanto, Cassandro convocou seus aliados Ptolomeu do Egito, Lisímaco da Trácia e Seleuco da Babilônia para virem em seu auxílio. Afinal de contas, Antígono era um inimigo comum. Demétrio, precisando ajudar seu pai na Ásia, concluiu um armistício com Cassandro e retornou para o Oriente, onde Lisímaco, no verão de 302, invadira a parte do reino de Antígono situada na Ásia Menor (atual Turquia). Como Antígono avançara em sua direção e Demétrio chegara da Grécia, Lisímaco ficou preso entre dois exércitos (verão 302). Cassandro enviou reforços, mas marinha de Demétrio os interceptou. No entanto, Lisímaco foi capaz de adiar uma batalha em larga escala, na esperança de que receber mais reforços. 
Os reinos dos Diádocos antes de 301 a.C.
No inverno de 301, os Antigônidas estavam próximos de encurralar Lisímaco, quando Ptolomeu invadiu a Síria e deteve o avanço de Antígono. Mas, por fim, Ptolomeu recuou quando recebeu a notícia falsa de que Antígono tinha sido vitorioso contra Lisímaco. Antígono e Demétrio se preparam agora para o golpe decisivo contra Lisímaco. Eles isolaram o seu adversário na Frígia. Naquele momento, porém, Seleuco chegou com seu efetivo. Antígono tentara impedir sua chegada enviando um exército para a Babilônia para fazê-lo recuar, mas Seleuco simplesmente ignorou esse estratagema, certo de que a batalha decisiva seria realizada na Frígia. Então, de repente ele apareceu justamente no campo de Lisímaco reforçando-lhe o efetivo, inclusive com cerca de 400 elefantes. Os exércitos finalmente se enfrentaram a cerca de 50 milhas a nordeste da cidade frígia de Synnada, próxima à aldeia de Ipso.

A Batalha de Ipso (301 a.C.) 
As fontes disponíveis não permitem reconstituir a batalha com muitos detalhes, mas permitem a seguinte reconstrução: Ambos os lados provavelmente dispuseram suas tropas em formação padrão macedônica, com a falange de infantaria pesada no centro da linha de batalha. Em frente e para os lados da falange,a infantaria leve eramposicionadas para atuar como batedores e proteger os flancos da falange; cavalaria foi dividida entre as duas alas. Na linha dos Antigônidas, Demétrio ordenava o melhor da cavalaria, estacionado na lateral direita. Antígono, com seu guarda-costas pessoal foi posicionado no centro, atrás da falange. Seus 75 elefantes foram mobilizados na frente da linha de batalha com seus guardas de infantaria. Na disposição dos demais diádocos, o filho de Seleuco, Antíoco, estava no comando da cavalaria na ala esquerda, tradicionalmente a ala mais fraca no sistema macedônico, destinado apenas a escaramuça. No entanto, se tem sido sugerido que nesta ocasião a cavalaria aliada foi dividida igualmente em as duas alas. Não se sabe quem comandou a ala direita, nem onde Lisímaco, Seleuco ou Pleistarco (irmão de Cassandro) estavam posicionados. Parece que cerca de 100 dos elefantes de Seleuco foram colocados na frente da linha de batalha. A batalha parece ter efetivamente começado com um choque entre os elefantes de ambos os lados. Os elefantes de Antígono e Lisímaco lutaram. Demétrio em seguida manobrou a sua cavalaria em volta dos elefantes, atacando a cavalaria aliada comandada por Antíoco. 
Diagrama esquemático da Batalha de Ipso
Apesar da valentia e vigor do ataque, Demétrio e seus homens acabaram por ficar isolados do campo de batalha. Demétrio não foi capaz de retornar e levar e manobrar seus cavalos através da linha em grande quantidade de elefantes dos aliados, que, segundo Plutarco, foram jogados em seu caminho. Presume-se que a manobra com os elefantes foi comandada por Seleuco. Com Demétrio isolado do campo de batalha, a falange de Antígono ficou exposta no seu flanco direito. Seleuco, observando que a falange de seus adversários estava desprotegida, investiu em sua direção, mas sem atacá-los diretamente, apenas intimidando-os e dando-lhes uma oportunidade de vir passar para o seu lado. O que de fato aconteceu. Este movimento contra o flanco direito do exército de Antígono provavelmente envolveu o destacando da ala direita da cavalaria dos aliados, incluindo os cavaleiros arqueiros de Seleuco, que poderiam lançar flechas sobre a falange imóvel de Antígono. A moral das tropas antigônidas parece ter entrado em colapso, parecendo ainda que alguns dos da infantaria pesada ou desertaram para o lado aliado ou fugiram. Antígono, posicionado no centro, tentou reunir os seus homens, esperando o retorno de Demétrio. No entanto, ele foi gradualmente cercado pela infantaria aliada e acabou morto por vários dardos lançados por soldados aliados. 
Ilustração da Batalha de Ipso
Com a morte de seu comandante, a linha de combate antigônida se dissolveu, e a batalha terminou com a vitória dos aliados. Demétrio, conseguindo ainda reunir alguns milhares de homens, escapou para Éfeso de onde partiu para a Grécia. A importância da Batalha de Ipso é ela sepultou a unificação do império de Alexandre (o ideal perseguido tenazmente por Antígono Monoftalmo). Os vencedores dividiram imediatamente os territórios asiáticos de Antígono: Lisímaco tomou grande parte da Ásia Menor, embora as partes do sul (Lícia e Cilícia) foram dadas ao irmão de Cassandro, Pleistarco. Seleuco recebeu a Síria, Fenícia e Palestina, mas descobriu que Fenícia e Palestina estavam ocupadas por Ptolomeu. Eles seriam ponto principal de discórdia entre os Selêucidas e Lágidas (a dinastia de Ptolomeu) nos anos seguintes. Na Capadócia um pequeno Estado surge, governado por Ariarates II, e tornou-se um reino-satélite do Império Selêucida.
Os reinos helenísticos após a batalha de Ipso

Trocando de Amigos e Inimigos
Ptolomeu, que não lutara em Ipso, controlava a Palestina, a Fenícia, e parte da Síria (Cele-Síria) que teoricamente pertenciam agora ao império de Seleuco, que as reivindicava. Antes da batalha de Ipso, os diádocos unidos contra Antígono haviam atribuído a Palestina e Cele-Síria a Ptolomeu. Porém, no momento mais crítico para os aliados, Ptolomeu recuara com suas forças ante a falsa notícia da vitória de Antígono. Um novo arranjo feito pelos reis vitoriosos entre si depois de Ipso onde a Cele-Síria foi foi atribuída ao império asiático de Seleuco, cujo papel foi fundamental na vitória sobre os Antigônidas. Ptolomeu, no entanto, se recusou a reconhecer o novo arranjo; Seleuco recusou-se a considerar o pacto original como ainda válido, alegando que os despojos deveriam ser repartidos por aqueles que lutaram. Porém, alegando respeito a antiga amizade entre os dois, Seleuco não tomaria nenhuma atitude contra Ptolomeu, mas no momento devido saberia tomar as providências contra os "amigos" que lhe invadiram as terras. Seleuco, no entanto, não conseguiu ampliar o seu reino para o Ocidente. A principal razão foi que ele não tinha tropas gregas e macedônias suficientes. Durante a batalha de Ipso, ele tinha menos homens de infantaria que Lisímaco. Sua força estava em seus elefantes de guerra e na tradicional cavalaria persa.
Ptolomeu I Sóter: de amigo passou a inimigo de Seleuco
Apesar da derrota em Ipso, Demétrio controlava a maior parte do Peloponeso e representava uma constante ameaça para os reino de Cassandro e Lisímaco. Assim Cassandro, Lisímaco e Ptolomeu concluíram um tratado (300 a.C.), que foi confirmado por casamentos: As filhas de Ptolomeu, Arsinoe II e Lisandra, foram dadas a Lisímaco e ao filho de Cassandro, Alexandre, respectivamente. Demétrio não representava nenhuma ameaça a Seleuco, mas uma guerra com Ptolomeu, fortalecido com a a aliança com Lisímaco e Cassandro, pela posse da Palestina e da Cele-Síria poderia acontecer. Então os antigos rivais Seleuco a Demétrio se aliaram (299) e Seleuco se casou com Estratonice, filha de Demétrio, então com cerca de 17 anos e Seleuco com cerca de 60. Provavelmente sua amada rainha, Apama, havia morrido. Estratonice era filha de Fila, irmã do rei Cassandro e filha de Antípatro, o antigo general e regente da Macedônia.
Demétrio Poliorcetes: De inimigo passou a sogro e amigo de Seleuco

Da união tiveram uma filha, também chamada Fila (II). Assim os Selêucidas se aliavam com os Antigônidas. O casamento entre as duas dinastias ocorreriam durante os séculos seguintes. A pedido de Seleuco, Demétrio retornou a Ásia acompanhando sua filha. O casamento de Seleuco com Estratonice foi celebrado em suntuosa cerimônia e Seleuco e Demétrio, antes grandes inimigos, se tratavam como amigos a a tal ponto de dispensarem armas e guarda-costas quando juntos.Demétrio estava agora suficientemente coberto, e expulsou o Pleistarco da Lícia e da Cilícia (298). Ao mesmo tempo, Seleuco invadiu Samaria na Palestina, mas sem tomar posse de terras. A frota de Demério conseguiu destruir a frota de Ptolomeu e Seleuco, assim, não tinha necessidade de temer uma maior intervenção de Ptolomeu. Cassandro estava à beira da morte e não podia intervir, e Ptolomeu ficou tão intimidado pela aliança de Demétrio e Seleuco, que fez um tratado de paz com eles. Seleuco negocia com sucesso o casamento de Demétrio com Ptolemais, filha de Ptolomeu. Seleuco agora se dedicaria a consolidar seu império fundando cidades helenísticas.
Rotas e mercadorias de comércio helenísticos em c. de 300 a.C..Os reinos de Ptolomeu e Seleuco dominam grandes áreas. Selêucia no Tigre, a antiga capital, e Antioquia, a nova capital selêucida, se ligam às antiga rotas comerciais demonstrando a visão estratégica de Seleuco Nicátor na fundação de suas capitais.


Antioquia, a Nova Capital 
A fim de ampliar o seu exército, Seleuco tentou atrair colonos da Grécia continental, fundando quatro novas cidades: Selêucia Piéria e Laodiceia no litoral da Síria e Antioquia e Apameia às margens do rio sírio Orontes. A nova Selêucia, fundada com habitantes de Antigônia, deveria tornar-se a sua nova base naval e uma porta de entrada para o Mediterrâneo, tendo certo status de capital. Seleuco também fundou seis cidades menores. É lhe atribuída ainda a fundação das cidades de Olba (futura Diocesareia dos romanos) e Cyrrhus. Essas cidades teriam sido fundados entre 301 e 298 a.C. Fundou a célebre fortaleza de Dura-Europos, que fundara talvez após a Guerra Babilônica (307 a.C.) para se resguardar de Antígono. Diz-se de Seleuco que tinha uma tão grande paixão para a construção de cidades, que teria construído ao todo nove Selêucias, dezesseis Antioquias e seis Laodiceias .
Seleuco transferiu para a Síria sua corte e centro administrativo onde construiu várias cidades
Embora tivesse construído seu reino no Oriente e lá tivesse sua primeira capital, Babilônia, e sua nova capital, Selêucia do Tigre, os interesses de Seleuco se voltavam mais para o Ocidente, de onde ele era proveniente e onde seus amigos-rivais estavam em constante atividade que ameaçavam ou apoiavam seus interesses. Sendo assim Seleuco transfere sua capital para Antioquia do Orontes. Parece que Alexandre Magno havia sacrificado a Zeus na localidade da futura cidade e o local também foi escolhido por meio de rituais em honra a Zeus, deus supremo do panteão grego. O nome da cidade honrava tanto a seu pai como seu filho que tinham o nome de Antíoco. A cidade estava situada estrategicamente do ponto de vista econômico e militar, vinculando-se ao comércio de especiarias, à Rota da Seda e à antiga Estrada Real Persa. Começou a sobrepujar Selêucia Piéria no litoral e se tornou a nova capital. Mesmo após a queda do Império Selêucida, Antioquia tornou-se uma das três principais cidades do Império Romano e um dos principais centros do judaísmo helenista e do cristianismo. Hoje é a cidade turca de Antakya.
Moeda do rei Seleuco I Nicátor cunhada em Antioquia (c. de 300 a.C.) retratndo
Héracles (Hércules) e Zeus, duas divindades associadas a Alexandre Magno


FONTES:
 http://en.wikipedia.org/wiki/Seleucus_I_Nicator http://osreisdamacedonia.blogspot.com.br/2010/09/cassandro-rei-em-305-297-ac.html http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Ipsus http://www.livius.org/io-iz/ipsus/ipsus.html http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-6-FROM-IPSUS-TO-THE-DEATH-OF-SELEUCUS.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Antioch
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm http://osreisdamacedonia.blogspot.com.br/2010/10/antigono-i-monoftalmo-diadoco-323-301.html http://forums.totalwar.org/vb/showthread.php?82509-Beta-of-Battle-of-Ipsus-is-up http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Africa/Egypt/_Texts/BEVHOP/2*.html
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/seleukos_I/SC_013@2.jpg
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Diodorus_Siculus/21*.html#1.5
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Tyche_Antioch_Vatican_Inv2672.jpg
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/seleukos_I/i.html
http://www.ancient.eu.com/image/67/

Nenhum comentário:

Postar um comentário